Obviamente, vacine-se
A capacidade do país mede-se também na forma como consegue gerir ou não o processo de vacinação.
Obviamente, demitam-se os responsáveis pelos abusos no processo de vacinação saídos dos praticantes do “chico-espertismo”, da cavernícola cunha, do jeitinho ao amigo, do abuso de poder. É o mínimo. Os actos são uma vergonha para os autores e motivo de justa indignação para todos. É saudável que a comunidade não esqueça aqueles, nomeadamente autarcas, que num momento de sofrimento colectivo quiseram passar à frente dos outros.
Mas, obviamente também, encontrem-se critérios claros para o que acontece – e à velocidade de cruzeiro que se quer a vacinação pode mesmo acontecer – quando “sobram” doses que têm de ser administradas para não serem desperdiçadas. Porque nesta altura não sobram vacinas contra a covid-19, faltam todas aquelas que ainda não podemos administrar.
Depois dos cuidados individuais, esta é a mais importante frente de ataque à pandemia, pelo que a sociedade tem o legítimo direito de medir a sua capacidade enquanto país na forma como consegue gerir ou não o processo, mas também na forma como ele se revela justo ou iníquo. Sendo o tema tão sensível, aqui e em todo o mundo, é difícil de engolir como a classe política não soube antecipar as questões, se perdeu em mais uma semana de ruído e ainda se continua a enredar em erros, quando estava obrigada a liderar pelo exemplo, com decisões esclarecidas, de forma a não contribuir para a fogueira onde se consome a confiança colectiva, que tão depauperada anda.
E até há razões para não ver tudo em mau. Os números continuam a mostrar que o país se mantém entre os dez primeiros no número de vacinados por cem habitantes, mesmo que se prosseguíssemos a este ritmo precisaríamos de anos para atingir a meta de ter 70% da população vacinada, o que a União Europeia (UE) quer atingir até ao fim do Verão. É um bom indicador, como é bom perceber, mesmo com alguma angústia à mistura, que a Comissão Europeia está na luta por aquilo que vai fazer toda a diferença, o ritmo de fornecimento das vacinas pelas farmacêuticas. Que diferente seria a nossa capacidade negociadora se não estivéssemos integrados na UE...
A vacinação é a mais forte luz ao fundo deste túnel onde prosseguimos e, mesmo que alguns espectros a ensombrem, é nela que temos de nos focar, exigindo critério, velocidade e transparência. Da parte do PÚBLICO, conte a partir desta semana com um espaço no nosso site para poder seguir os principais indicadores da vacinação, especialmente o número de vacinados com a primeira e com a segunda dose – respectivamente, 264.772 e 65.461, até ao dia de ontem. Não é só com isto, mas é muito com estes números que todos poderemos avaliar se estamos ou não a caminhar em direcção ao fim do túnel.