Fotografia
Doze anos a viajar pelo mundo em busca de cinemas abandonados (e adaptados)
Ao longo de 12 anos, o fotógrafo Simon Edelstein percorreu 30 países – entre os quais Portugal – em busca de "cinemas esquecidos, roídos pelo tempo". Abandoned Cinemas of the World faz o retrato melancólico de edifícios que foram desenhados para fazer sonhar.
Perante a recente crise sentida pelos cinemas de todo o mundo, tocados pelo encerramento dos espaços de lazer por força da pandemia de covid-19, torna-se pertinente olhar para o passado dos cinemas e levantar questões acerca do seu futuro. O fotolivro Abandoned Cinemas of the World, de Simon Edelstein, levanta o véu sobre o triste destino de muitos, emblemáticos e grandiosos, edifícios da sétima arte que perderam protagonismo ao longo das últimas décadas."Os cinemas são efémeros. E são cada vez mais raros na paisagem urbana."
Simon, um confesso apaixonado por cinemas e pela sua arquitectura, dedicou 12 anos à procura e ao registo fotográfico de "cinemas esquecidos, roídos pelo tempo". Percorreu 30 países – entre os quais Portugal, França, Inglaterra, Roménia, Marrocos, Algéria, Líbano, Índia, Cuba, Estados Unidos da América; regressou desses destinos com milhares de imagens de edifícios ao abandono, um testemunho do declínio e da perda de importância destes lugares na contemporaneidade. De todas as fotografias que produziu escolheu 562 para integrar o fotolivro que editou, com a Jonglez Publishing, em 2020, um mês antes do estalar da pandemia no Ocidente – longe de imaginar que em 2021 poderia produzir um novo livro com edifícios bem mais recentes e igualmente abandonados.
"Por apatia ou por força dos mercados, as autoridades de cada país recusam, geralmente, transformar os velhos cinemas em edifícios classificados. Não oferecem qualquer suporte para a manutenção de espaços que se tornam problemáticos e dispendiosos. Assim, os cinemas são esquecidos, enquanto o público se torna indiferente à sua lenta desaparição." Para amantes destes "espaços oníricos", como Simon lhes chama, "esta decadência é um pesadelo". Nenhum aspecto destes edifícios foi descurado pelo fotógrafo, que os olhou sob todas as perspectivas possíveis, desde as fachadas aos pormenores de interior. Os neónes partidos, apagados, as cadeiras cobertas de pó de décadas, as paredes com tinta descascada, os frescos desbotados, os pósteres rasgados, todos estes elementos formam um retrato melancólico de edifícios que foram desenhados para fazer sonhar. Não deixou de fora, sequer, os cinemas ambulantes e os famosos drive-ins.
Em Portugal, Simon fotografou, em 2006, o Cinema Avenida, na Costa Nova, no distrito de Aveiro, que foi, em 2010, demolido, e em 2008, o Águia d'Ouro, no Porto, que foi adaptado e é, hoje, mais um hotel.
Edelstein dedica um capítulo do seu "estudo fotográfico", como chama ao conjunto de imagens, à readaptação das casas da sétima arte a outros negócios. "Quando a função de um auditório de cinema muda, pode ser divertido jogar ao 'veja as diferenças' entre a fachada original e a que surgiu adaptada", ironiza. "Algumas tornam-se irreconhecíveis. Sem excepção, todas ficaram à mercê dos caprichos do novo dono." O conteúdo destes edifícios é, hoje, do mais diverso. Lojas de tapetes, igrejas evangélicas, bingos, danceterias, lojas chinesas, livrarias são alguns dos exemplares que o fotógrafo documentou. São, noutros casos, casas de pessoas que simplesmente ocuparam um edifício devoluto.