Benfica “infectado” volta a tropeçar na I Liga
Dizimados pelo novo coronavírus, os “encarnados” sofreram também com o “vírus” do mau futebol. O empate frente ao Nacional, em casa, deixa a equipa de Jorge Jesus com a possibilidade de ver o Sporting fugir no topo da tabela.
O novo coronavírus tirou uma dezena de jogadores ao Benfica, mas o efeito do vírus parece não ter ficado só pelos casos positivos de covid-19. Houve, nesta segunda-feira, uma “infecção” generalizada, mas com o “vírus” do mau futebol.
Na Luz, Benfica e Nacional proporcionaram um mau espectáculo de futebol, com pouca qualidade técnica, pouca intensidade, “festival” de passes errados, poucos lances de golo e, globalmente, pouca vontade de um lado e outro.
E os “encarnados”, dizimados pelo vírus, deixaram-se abater – no desempenho e no resultado –, empatando frente aos madeirenses (1-1). Um desfecho que deixa a equipa de Jorge Jesus com a possibilidade de ver o Sporting fugir no topo da tabela – os “leões” jogam nesta terça-feira, frente ao Boavista.
15 minutos para amostra
Para este jogo, o Benfica voltou ao 4x4x2 habitual, deixando a má experiência com o sistema de três centrais na Taça da Liga, frente ao Sp. Braga.
Do lado contrário, o Nacional mostrou que os dados estatísticos nem sempre dizem tudo, mas, por vezes, dizem bastante. A formação da Madeira é a terceira equipa da Liga que menos faltas faz, a que mais cruzamentos permite e a segunda mais frágil no jogo aéreo.
Aos 8’, parte dessas características foram colocadas a nu. João Ferreira ultrapassou um defensor em drible, no corredor, e desequilibrou o adversário.
Inábil para parar a jogada com uma falta, o Nacional deixou-se levar na descompensação, João Ferreira voltou a ser mais forte em drible, cruzou e Chiquinho finalizou no centro da área. Não houve falta, houve espaço, houve cruzamento e houve… fora-de-jogo.
Aos 14’, a “receita” foi repetida. Pizzi pôde criar no corredor direito, cruzou e Chiquinho cabeceou ao segundo poste. Nacional novamente permissivo no corredor, como habitualmente, e permissivo no jogo aéreo (mesmo contra um jogador baixo como Chiquinho), também como é comum.
Em traços gerais, é isto que há para contar. A qualidade de um jogo pode ser aferida pela quantidade de notas no bloco de um jornalista e, neste caso, as notas pouco passaram daqui.
Ainda houve um remate de Gorré, é certo, mas o jogo caminhou até ao intervalo quase “sem balizas”. Depois da entrada enérgica do Benfica, o Nacional equilibrou durante alguns minutos, mas sem criar perigo – importa lembrar que é a equipa da I Liga que menos tempo passa no meio-campo adversário, algo piorado pela ausência de Riascos, o “esticador de jogo” dos madeirenses.
No Benfica, havia, sobretudo, sucessão de erros técnicos. Mais do que a dinâmica ou a dificuldade para desmontar o Nacional, o que se viu foi, essencialmente, um rol de más recepções de bola, maus passes e más decisões, geralmente ainda em fase de criação (foram 66 perdas de bola).
Seferovic e Darwin pouco tocaram na bola e, quando o fizeram, foi para demonstrarem as limitações no jogo combinativo – são ambos mais fortes no ataque ao espaço, mas o Benfica nunca optou por essa via.
Até ao intervalo, o jogo não teria valido o dinheiro gasto num bilhete.
Nacional castigou passividade
O Benfica está no pelotão da frente entre as equipas que mais golos sofrem de bola parada, a defesa “encarnada” é a pior dos últimos 30 anos e, em equipas de Jorge Jesus, esta é a pior defesa desde que o técnico deixou o Belenenses, em 2008.
Dados que apontam para o que se passou aos 48’. Canto curto do Nacional, com Gorré a ter tempo e espaço para cruzar dentro da área – situação até estranha, de tão incomum que é ver tamanha passividade na defesa naquela zona do terreno.
O jogador dos madeirenses cruzou e João Ferreira, adormecido, foi batido por Rochez, que se antecipou ao lateral e cabeceou para a baliza deixada a nu pelo movimento errático de Svilar. Neste golo, juntaram-se o engenho e a vontade do Nacional com a sucessão de erros e más abordagens do Benfica.
A cerca de meia hora do final, Jorge Jesus percebeu que precisava de “pilhas novas”. Entrou um jovem enérgico à procura de mostrar serviço, Gonçalo Ramos, e um outro jovem já habitualmente forte a mexer com o jogo, Pedrinho.
A intenção não passou disso mesmo. Nenhum dos dois foi particularmente útil a melhorar o futebol “encarnado”, ainda que o avançado, aos 65’, tenha solicitado uma bola em profundidade (coisa rara neste jogo) e rematado para defesa de Daniel Guimarães.
Mais perigo real só aos 84’, com uma jogada de Taarabt a ir ter com os pés de Seferovic, perto da linha de baliza. O suíço, desinspirado, não leu bem o passe do marroquino, atrapalhou-se com a bola e não finalizou uma oportunidade flagrante.
Escrevemos que, até ao intervalo, o jogo não teria valido o dinheiro gasto num bilhete. No final da partida, a sensação é a mesma.