Covid-19: Governo federal brasileiro antecipa vacinação a nível nacional para hoje

Campanha de imunização estava prevista para quarta-feira, mas a pressão dos governadores levou o Executivo a alterar a data.

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Ministro da Saúde anunciou antecipação do início da campanha de vacinação no Brasil Reuters/STRINGER

O Governo federal brasileiro antecipou a data de início do processo de vacinação nacional para esta segunda-feira, um dia depois de o estado de São Paulo ter iniciado a sua própria campanha de imunização.

Inicialmente, o Governo de Jair Bolsonaro apontava para esta quarta-feira o início da vacinação, mas depois de o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, se ter encontrado com vários governadores foi decidido antecipar por dois dias. É previsto que as primeiras vacinas sejam administradas a partir das 17 horas (20 horas em Portugal continental). 

As primeiras 4,6 milhões de doses de vacinas começam a ser distribuídas ao longo do dia desta segunda-feira pelos 26 estados brasileiros e Distrito Federal. Pazuello anunciou “o primeiro passo para a maior campanha de vacinação do mundo”. O ministro admitiu que foram os apelos dos governadores que levaram à alteração do calendário de vacinação. “O cronograma inicial era a logística hoje, amanhã a logística dos estados para os municípios e, na quarta-feira, o início. Os governadores solicitaram que, assim que [as vacinas] chegassem aos estados, eles tivessem a liberdade de iniciar a vacinação”, disse Pazuello.

A antecipação foi recebida com alguma surpresa, especialmente depois de na semana passada ter sido noticiado o atraso do envio das primeiras encomendas da vacina da Universidade de Oxford e da Astrazeneca pela fábrica indiana que as está a desenvolver. Esse atraso chegou a pôr em causa o próprio calendário inicial do Governo federal.

No domingo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) certificou a utilização da CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, e da vacina desenvolvida entre a Universidade de Oxford e o laboratório Astrazeneca. Poucas horas depois, o governo estadual de São Paulo iniciou o processo de vacinação, com a aplicação da primeira dose da CoronaVac a uma enfermeira de 54 anos que faz parte do grupo de risco.

A vacinação contra a covid-19 no Brasil transformou-se numa batalha política entre o Governo federal e o governo estadual de São Paulo, chefiado por João Doria. Durante meses, Bolsonaro desvalorizou o desenvolvimento das vacinas e deu prioridade a tratamentos “precoces” contra a covid-19, como a administração de medicamentos como a cloroquina, usada no combate à malária, mas sem efeitos comprovados contra o novo coronavírus. Quem recorresse a este tipo de substância, argumentava o Presidente brasileiro, poderia fazer uma vida normal sem respeitar as restrições de deslocações ou o isolamento físico – medidas que sempre criticou.

Ao mesmo tempo, o governo de São Paulo redobrou os esforços para garantir encomendas de vacinas em desenvolvimento e prontificou-se a colaborar com as investigações, através do Instituto Butantan ligado ao governo estadual. 

Mais recentemente, o Governo federal, pressionado por governadores e até pelo Supremo Tribunal Federal, começou a reunir esforços para adquirir vacinas, embora o próprio Bolsonaro tenha afirmado publicamente que não pretende ser vacinado. 

A cerimónia de domingo, que marcou o início da campanha de vacinação em São Paulo, marcada logo após a reunião da Anvisa em que foi decidida a certificação da CoronaVac, foi vista como um desafio ao Governo federal, diz a imprensa brasileira. Pazuello classificou a iniciativa de Doria como uma “jogada de marketing” e avisou que a vacinação à revelia de Brasília está em “desacordo com a lei”.

Depois do anúncio de Pazuello, Bolsonaro afirmou que “a vacina é do Brasil, não é de nenhum governador”, referindo-se a Doria.

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