“Ter uma baleia a olhar-te nos olhos deixa-te mais humilde”

Jem Cresswell mergulhou no Pacífico e sentiu-se pequeno. A jornada de seis anos resultou num livro, Giants, onde o fotógrafo compilou mais de 100 retratos íntimos de baleias-de-bossas.

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Mergulhar no oceano é como "entrar noutro mundo". "Nunca sabes o que vais ver ou experienciar." E ter uma "curiosa criatura de 16 metros a nadar à tua volta e a olhar-te nos olhos" deixa qualquer um "mais humilde": "Sentes-te tão pequeno e insignificante mas, ao mesmo tempo, cheio de admiração." Jem Cresswell viveu-o na primeira pessoa. Como um jovem nascido no Sul da Austrália, habituou-se desde cedo a explorar lugares repletos de vida selvagem — fosse a surfar, a mergulhar ou a acampar com amigos. Essa ideia de "escape e liberdade" que conseguia quando estava na natureza aguçaram-lhe a paixão pelo oceano, mas foi em 2014 que se deixou levar pela "gentileza e pureza" das baleias-de-bossas. Começou a abraçar (e a apaixonar-se por) essa sensação de insignificância na sua presença. 

Actualmente a viver na costa Este da Austrália, local elegido por grupos de baleias para a época de reprodução, o fotógrafo iniciou, em 2014, uma série de retratos destes animais, que evoluiu de uma exposição para o livro Giants. "Comecei este projecto com o objectivo de criar retratos de baleias-de-bossas a fazerem contacto visual com a câmara, com lentes que, normalmente, uso em estúdio para fazer retratos de pessoas. Queria captar as emoções e personalidades individuais destes gentis gigantes", enquadra o fotógrafo. Desde 2014, todos os anos, passava "algumas semanas" da migração de baleias para Tonga, à procura delas e a perceber os seus comportamentos, antes de decidir com as quais ia mergulhar.

"Todos os anos, à medida que me ia tornando mais relaxado na água, a controlar a minha linguagem corporal e a baixar o meu batimento cardíaco, as interacções com as baleias tornaram-se mais prolongadas e íntimas", conta. A jornada trouxe-lhe "imensas experiências impressionantes": "Elas estão tão cientes da disparidade de tamanhos que se asseguram que não te dão uma pancada com as barbatanas peitorais quando passam por ti." "Isto ensinou-me a ter uma maior apreciação, consciência e a perceber a importância não só destes gentis gigantes, mas por toda a vida neste planeta."

Estima-se que cerca de 200 mil baleias-de-bossas tenham sido esquartejadas entre 1904 e 1980, vendo a sua população reduzida cerca de 90%. Giants poderá, "com sorte, ajudar as pessoas a sentirem-se conectadas e inspiradas a cuidar da natureza". Ao fim de seis anos, Jem tinha cerca de 11 mil fotografias — e teve que as reduzir para as 105 que foram parar ao livro. A julgar pelas imagens da fotogaleria, podemos adivinhar que a selecção não tenha sido fácil. Confirma-se. "Foi um processo bastante longo. Ao fim de alguns meses consegui seleccionar cerca de 60", refere. Imprimiu-as e colou-as à volta da casa, divididas por grupos de imagens semelhantes. "Com o tempo, começas a ver o que sobressai." Confiou a tarefa a alguns amigos chegados, que ajudaram na decisão final. Foi um processo "muito mais longo" do que alguma vez imaginava, mas satisfaz-se por "ter dado ao livro o tempo de que ele precisava". 

O livro está terminado — e à venda —, mas Jem não tem dúvidas de que voltará a cruzar-se com as baleias-de-bossas no futuro. Por agora, está a trabalhar num projecto que "celebra a beleza de uma espécie encontrada na Grande Baía da Austrália", para onde, "felizmente", pode viajar em tempos de pandemia — uma vez que sair da Austrália ainda não é opção. Mas as baleias-de-bossas não lhe saem da cabeça: não se cansa de falar no sentido de humildade que ganhou quando conviveu com elas. "Ainda há tanto a aprender com estas criaturas inteligentes e complexas". E tão gentis.