Fábio percorreu os 4000 quilómetros do Pacific Crest Trail em 108 dias

Cruzou-se com cinco ursos e um puma, teve falta de comida e chegou a estar desidratado. No entanto, quando chegou ao fim do Pacific Crest Trail, Fábio Inácio sentiu que foi “uma conquista brutal”. 

Fábio Inácio
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Fábio Inácio

De mochila às costas, com roupa, comida e tenda: foi disto que Fábio Inácio, de 35 anos, precisou para “sobreviver” nos 108 dias em que percorreu o Pacif Crest Trail (PCT), um dos trilhos mais conhecidos no mundo. Ao P3, Fábio diz ser “o primeiro português de que há registo” a fazer este percurso que liga o México ao Canadá, passando pelos Estados Unidos. Só que para se desafiar "a nível físico e psicológico", fez o percurso inverso: do Canadá ao México.

A viagem, que começou a 5 de Julho de 2019 e terminou a 20 de Outubro do mesmo ano, "não foi planeada com muito detalhe". A preparação física e mental foi “muito pouca”, porque Fábio faz desporto regularmente há muitos anos, desde bodyboard a corridas, e está habituado a viajar. Durante o percurso, dormiu em média seis horas por noite, mas “descansava bem”. Caminhou uma média de 39,5 quilómetros diários e o máximo que fez num dia foram 81 porque “o corpo começou a ganhar muita força”. Nem sempre teve vontade de andar todos os dias, mas tinha de o fazer para chegar a determinado local “onde sabia que tinha água, por exemplo”.

Mas nem sempre a encontrou e esteve um dia inteiro sem comida. Do início ao fim da viagem, passou de pesar 74 para 61 quilogramas. Nas vilas que ia encontrando pelo caminho, Fábio tinha acesso a uma caixa de comida que deveria dar para cinco dias, mas dava-lhe para três. “Comprava comida leve para não pesar nas costas e, de preferência, com mais calorias.”

Além de longo, o PCT é desafiante: há serras, montanhas, rios, lagos, vida selvagem, desertos. Fábio viu isso tudo. “Levei a viagem como um dia normal da nossa vida, em que nos aparecem coisas à frente e temos de resolver”, garante. Passou por tempestades e viu cinco ursos e um puma. A sensação foi “linda”, mas também sentiu medo. “Um dos ursos veio a correr para mim e eu aí gritei”, relata. “Houve uma altura que comecei a andar muito de noite, mas depois vi um puma. Quando deixei de o ver fiquei aterrorizado. Estava há horas sem ver ninguém e não tinha ninguém para me ajudar. Durante uma semana, o corpo rejeitava-se a andar à noite. As pernas começavam a tremer automaticamente.”

Fábio quis passar o máximo de tempo sozinho para “sentir tudo” à volta. A maioria das noites acampou: montava a tenda debaixo de uma árvore, quando dava, ou simplesmente ficava a dormir ao ar livre. Aconteceu também, mas por poucas vezes, ficar a dormir nas vilas, onde aproveitava para tomar um banho e para "comer bastante”. Também era aí que tinha acesso a internet para entrar em contacto com a família e amigos. Quando chegava a uma destas vilas todos mostravam simpatia e queriam ouvi-lo contar histórias. Conheceu muitas pessoas, de diversos países, e criou algumas ligações que ainda hoje se mantêm. Segundo Fábio, fazer o percurso “dá para qualquer pessoa, desde que esteja disposta a sofrer um bocado”.

Durante o caminho, ninguém se fazia conhecer pelo próprio nome. “O meu nome era Juicy fruit. Tinha uma camisa com ananases e melancias, com a qual andei do primeiro ao último dia, e houve uma senhora que me deu esse nome”, explica. No primeiro dia do percurso, a sensação de estar lá foi “uma alegria enorme”; quando acabou foi “uma conquista brutal”. Apesar de haver dias mais complicados, a maior parte do tempo “estava tranquilo e a viver o momento”. “Quase no fim pensei ‘vou até ao fim, mas nunca mais vou fazer nada disto’. Depois quando acabei já estava a pensar noutro percurso”, conta, entre risos. No futuro, pretende fazer o mesmo caminho em menor tempo, ou outros existentes nos Estados Unidos.

“Os meus dias passavam por acordar, andar, parar às vezes para comer; quando havia lagos nadava, meditava, voltava a nadar, montava a tenda, ou não, escrevia e dormia”, recorda. Era à noite, antes de dormir, que Fábio tinha tempo de “escrever no telemóvel” o que se passou durante o dia. E com esses apontamentos fez um livro sobre a viagem, “um diário” com fotografias, acabado de lançar no final de Novembro. 

Texto editado por Ana Maria Henriques

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