Eurodeputado próximo de Orbán demite-se depois de ser apanhado em orgia

Autor da Constituição que proíbe o casamento entre pessoas do mesmo sexo na Hungria, Szájer terá tentado escapar da festa ilegal no primeiro andar de um bar gay em Bruxelas através de um algeroz, ferindo-se na tentativa.

Foto
József Szájer é um aliado do primeiro-ministro húngaro, Victor Órban BERNADETT SZABO/Reuters

A demissão, no domingo, foi uma surpresa. Na carta ao presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, József Szájer dizia-se “cansado” da política e garantia que a decisão não estava ligada ao debate actual na União Europeia, onde a sua Hungria bloqueia o fundo de recuperação de 750 mil milhões de euros. E não estava: esta terça-feira, depois das primeiras notícias nos jornais belgas, o eurodeputado, fundador do partido ultraconservador Fidesz, admitiu ter estado na festa de Bruxelas que a polícia e os media descrevem como “uma orgia” na qual participaram diplomatas, “na maioria homens”, e onde foram encontradas drogas.

“As notícias na imprensa belga referem uma festa privada em Bruxelas na sexta-feira. Eu estava presente”, assim começa o comunicado do aliado de Victor Orbán, o primeiro-ministro da Hungria. “Depois de a polícia me pedir a identificação – já que não tinha o bilhete de identidade comigo – declarei que sou membro do Parlamento Europeu”, descreve.

“Não usei drogas. Ofereci-me para fazer um teste rápido mas eles não quiseram. De acordo com a polícia foram encontradas pastilhas de ecstasy, mas não são minhas nem sei quem as colocou nem como”, acrescenta. Era difícil a Szájer não fazer uma referência a drogas, já que a polícia diz terem sido encontradas na sua mochila.

A polícia foi chamada por causa do barulho e da suspeita de uma festa ilegal face às regras que a pandemia de covid-19 impôs em Bruxelas, que incluem um recolher obrigatório entre as 22h e as 6h e a proibição de encontros sociais em espaços fechados. Ora na festa, que segundo o jornal flamengo Het Nieuwsblad, decorria no primeiro andar de um bar gay na Rue des Pierres, quase em frente a uma esquadra de polícia, “a polícia encontrou 25 pessoas, quase todas nuas, envolvidas numa orgia”. De acordo com o mesmo jornal, o eurodeputado “terá tentado escapar por uma calha” e, “uma vez detido, invocou a sua imunidade”.

A maioria das notícias e das declarações da polícia não identificam os presentes, referindo sempre que eram “vários diplomatas” e “um eurodeputado”.

"A fugir pelo algeroz"

Mas num comunicado enviado ao canal Euronews, o Gabinete de Procuradores Públicos Belgas descreve como uma pessoa que passava na rua “disse à polícia que tinha visto um homem a fugir pelo algeroz”. “As mãos desse homem estavam ensanguentadas. É possível que se tenha ferido enquanto fugia. Foram encontrados narcóticos na sua mochila”, continua o texto. Como não tinha nenhum documento, “foi acompanhado até à sua residência onde se identificou como S.J. (1961) através de um passaporte diplomático”. József Szájer nasceu em 1961.

“Lamento profundamente ter violado as restrições da COVID, foi irresponsável da minha parte”, afirma ainda Szájer na sua declaração, afirmando que pagará “a multa aplicável”. Todos os presentes serão multados. “Com a minha demissão, retirei as conclusões políticas e pessoais”, diz ainda. “Peço desculpas à minha família, aos meus colegas, aos meus eleitores. Peço-lhes que avaliem este meu passo em falso no contexto dos meus 30 anos de trabalho devoto e duro”, acrescenta, antes de sublinhar que este “passo em falso” só o responsabiliza a ele e pedindo que não se confunda o seu comportamento com o do seu país ou da sua “comunidade política”.

Szájer não é só eurodeputado e membro fundador do Fidesz, o partido primeiro-ministro Orbán que se opõe abertamente à igualdade de direitos para as pessoas LGBT e procura agora proibir a adopção por casais homossexuais. Szájer, que antes de eurodeputado foi líder do partido no Parlamento húngaro, escreveu pessoalmente a Constituição de 2011 onde se lê que “a Hungria protegerá a instituição do casamento como união de um homem e de uma mulher”.

Sugerir correcção
Ler 43 comentários