Rússia acusa Ucrânia de ataque a região fronteiriça com mísseis de longo alcance norte-americanos

O exército ucraniano não confirma para já utilização de armamento norte-americano, mas agências noticiosas dizem que cidade russa de Karachev foi visada com ATACMS. Guerra na Ucrânia dura há mil dias.

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Exemplar de ATACAMS na posse do exército ucraniano Reuters

A Ucrânia lançou um ataque contra a região russa de Bryansk durante a noite com seis mísseis de longo alcance ATACMS de fabrico americano, informaram as agências noticiosas russas na terça-feira, citando o Ministério da Defesa russo. O ataque, ao início da manhã, atingiu um depósito de munições na região de Bryansk, no sudoeste da Rússia, informaram as autoridades ucranianas citadas pelo jornal The New York Times.

Os sistemas de defesa aérea russos interceptaram cinco dos mísseis e danificaram um, segundo o relatório. Os destroços de um míssil caíram sobre uma instalação militar na região, provocando um incêndio. Não há, até ao momento, registos de vítimas mortais.

As agências ucranianas Forbes Ukraine e RBC Ukraine, citando fontes anónimas, afirmaram que o ATACMS tinha sido utilizado pela primeira vez para efectuar o ataque em Karachev, na região de Bryansk. “Pela primeira vez, usámos o ATACMS para atingir o território russo. O ataque foi contra uma instalação na região de Bryansk e foi bem-sucedido”, disse a fonte anónima das forças armadas ucranianas citada pela RBC Ukraine. O alvo, um armazém onde a Rússia guardaria armamento, fica a cerca de 130 quilómetros da fronteira. Responsáveis militares norte-americanos e ucranianos, que falaram ao NYT sob anonimato, confirmaram que foram usados ATACAMS, no ataque.

O exército ucraniano, que de forma oficial não confirmou o tipo de arsenal usado neste ataque, disse que o mesmo foi seguido por 12 explosões secundárias e várias detonações.

“A destruição de depósitos de munições vai continuar para o exército dos ocupantes russos, a fim de pôr termo à agressão armada da Federação Russa contra a Ucrânia”, afirmou. A Ucrânia utiliza frequentemente drones produzidos internamente para atingir alvos que podem atingir alvos no interior da Rússia, mais longe do que Karachev.

Mira às munições norte-coreanas

Andrii Kovalenko, membro do Conselho de Segurança e Defesa Nacional da Ucrânia, disse, segundo escreve o jornal norte-americano, que o ataque de terça-feira em Bryansk atingiu armazéns onde se encontravam “munições de artilharia, incluindo munições norte-coreanas para os seus sistemas”.

O número de militares norte-coreanos estacionados na Rússia pode aumentar para 100 mil, disse o Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy na terça-feira. “Agora, Putin trouxe 11.000 soldados norte-coreanos para as fronteiras da Ucrânia. Este contingente pode aumentar para 100.000”, afirmou Zelenskiy num discurso virtual perante o Parlamento Europeu.

A agência de espionagem da Coreia do Sul afirmou na semana passada que as tropas norte-coreanas já tinham participado em operações de combate contra as forças ucranianas.

Este fim-de-semana, o Presidente norte-americano autorizou a Ucrânia a utilizar os mísseis de longo alcance de fabrico norte-americano contra alvos em todo o território russo, após vários meses de hesitação. "Esta é a resposta para todos aqueles que queriam conseguir alguma coisa com Putin através de conversas, telefonemas, abraços - apaziguamento", disse Volodymyr Zelenksy na sua comunicação habitual, referindo-se à conversa telefónica entre o Presidente russo e o chanceler alemão, Olaf Scholz, realizada na sexta-feira. Os "ataques não se fazem com palavras", afirmou.

O Kremlin tinha avisado em várias ocasiões que a reacção a ataques no seu território com mísseis cedidos pela NATO seria significativa. Esta terça-feira, Putin reagiu à autorização dos EUA com uma actualização da doutrina nuclear: ataques com aviões de guerra, mísseis de cruzeiro e drones ​fazem agora parte da lista de “perigos e ameaças militares contra os quais se pode actuar com dissuasão nuclear”.

“É possível uma resposta nuclear da Rússia em caso de ameaça crítica à sua soberania, mesmo com armas convencionais; em caso de ataque à Bielorrússia, enquanto membro do Estado da União [ou]; em caso de lançamento maciço de aviões militares, de mísseis de cruzeiro, de drones, de outras aeronaves e da sua travessia da fronteira russa”, lê-se no documento actualizado, citado pelo jornal britânico The Guardian.

Segundo dados de Janeiro de 2024, recolhidos pelo Programa sobre Armas de Destruição Maciça do Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (SIPRI), a Federação Russa detém o maior arsenal nuclear do mundo, com 4489 ogivas. O relatório do SIPRI publicado em Junho, conclui que a Rússia e os EUA possuem 90% de todas as armas nucleares existentes.