Será que o telemóvel está a afectar a relação com o seu filho?

A interacção com o bebé no período entre os 0 e os 3 anos é o elemento mais importante para o seu desenvolvimento, pois é na relação que o cérebro do bebé se desenvolve e que ele mais aprende

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"Cada minuto de atenção que damos ao telemóvel quando estamos com o nosso bebé é um minuto a menos de interação que temos com ele" Alexandre Boucher/Unsplash

Nunca os pais tiveram oportunidade de passar tanto tempo com os seus bebés. No entanto, parece que cada vez mais existem distracções que afectam a qualidade desse tempo passado entre pais e filhos. Os telemóveis estão, de forma crescente, a impactar negativamente essa relação.

Sabemos hoje que a interacção com o bebé no período entre os 0 e os 3 anos é o elemento mais importante para o seu desenvolvimento, pois é na relação que o cérebro do bebé se desenvolve e que ele mais aprende. Por isso, o que quer que seja que perturbe o tempo, o significado ou a qualidade emocional das interacções terá repercussões sérias tanto no desenvolvimento dos bebés, como na relação de vinculação entre pais e bebés.

Quando o bebé nasce, o seu cérebro é ainda muito imaturo, sendo que o maior e mais rápido desenvolvimento se dá nos primeiros três anos de vida. Este desenvolvimento cerebral, que faz com que o bebé aos 3 anos já tenha cerca de 85% do cérebro que terá em adulto, faz-se na exposição a experiências diversificadas, mas sempre com base na interacção com o outro, regra geral os cuidadores mais próximos.

Explicando um pouco melhor: quando a mãe ou o pai responde aos sons ou choro do bebé ao pegar nele ao colo; quando o bebé sorri e o pai sorri de volta; quando o bebé aponta para uma imagem de um livro e a mãe olha para a mesma e a descreve; em todos estes exemplos os pais estão a construir o cérebro do seu bebé. Com este “jogo de dar e receber”, os pais estão literalmente a arquitectar o cérebro do bebé, criando as bases de toda a aprendizagem, comportamento, personalidade, saúde física e mental. Sem esta interacção “olhos nos olhos” não há desenvolvimento cerebral!

Há muitas coisas que podem atrapalhar esta interacção fulcral dos pais com os seus filhos e que são fáceis de perceber, como por exemplo a doença mental de um dos pais ou a separação física do bebé. Mas uma das barreiras mais comuns e menos valorizadas por nós, actualmente, é o uso que os pais fazem da tecnologia, nomeadamente do seu telemóvel.

Cada minuto de atenção que damos ao telemóvel quando estamos com o nosso bebé é um minuto a menos de interacção que temos com ele ou uma disrupção na interacção que estávamos a ter.

Neste momento deve estar a pensar: “Olhar para o Facebook ou Instagram, dar uma vista de olhos rápida para responder a um e-mail não é nada de mais.” Mas os bebés são “esponjas” nesta necessidade do cérebro se desenvolver e estão constantemente a absorver tudo à sua volta. Os pais que estão absortos com os seus telefones podem, por exemplo, não conseguir estimular as competências básicas da linguagem, entre outras.

Os bebés precisam de um cuidador carinhoso, receptivo e atento, que os ajuda a desenvolver e aprender. Eles esperam que o seu cuidador seja assim e é essencial que isso aconteça, caso contrário existe uma grande ameaça ao desenvolvimento e bem-estar do bebé.

Além disso, é praticamente impossível responder de forma sensível e atenta às necessidades do bebé enquanto se escreve uma mensagem de texto ou se faz um scroll nas redes sociais. Esta distracção terá certamente consequências negativas para o bebé — além da tristeza e retracção do momento, a longo prazo poderá causar danos no bem-estar emocional, mau comportamento infantil e atraso no desenvolvimento da linguagem, entre outros.

Os bebés percebem que algo está a desviar a atenção que os pais deviam estar a prestar-lhe! Embora não tendo ainda capacidade para dizer que não gostam que a mamã e o papá estejam indisponíveis, conseguem demonstrar que estão descontentes. Numa tentativa de recuperar a sua atenção podem, por exemplo, fazer birras, ficar muito inquietos, choramingar ou mesmo amuar, já que não têm ainda as capacidades cognitivas para explicar aos seus progenitores que precisam de atenção.

Se for realmente muito difícil para os pais desligarem-se do telemóvel — por vezes já nem se dão conta que estão há tempo demais “emaranhados” em mensagens e afins —, podem optar por implementar estratégias para toda a família. Por exemplo: planear os momentos e locais exactos em que podem estar com os dispositivos ter um cesto para colocar os telemóveis quando a família está reunida ou desligar as notificações quando chegam a casa. Mas o melhor mesmo seria que da próxima vez que esteja com o seu filho deixasse o telefone na carteira!

Já agora, sabia que o tempo de utilização de dispositivos pelos pais é o maior preditor do tempo de utilização por parte dos filhos, no futuro? Dá que pensar, não dá?


For Babies Brain by Clementina é um parceiro do Pares do Ímpar. Os conteúdos publicados são da responsabilidade da autora. Pares do Ímpar é um projecto de parceria entre o PÚBLICO e criadores independentes de conteúdos em áreas especializadas, complementares ao alinhamento editorial do Ímpar.

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