As mulheres do vinho
Se há uns anos as adegas eram lugares predominantemente masculinos, o mundo do vinho democratizou-se entretanto. Através do olhar de doze mulheres, reflectimos sobre as dinâmicas do sector e a influência feminina na renovação e desenvolvimento do vinho português.
Em 2011, traçámos na Fugas um retrato do vinho português no feminino e já na altura foi difícil seleccionar dez enólogas que se estavam a impor num mundo tradicionalmente de homens. Foi difícil porque o leque de escolhas já era vasto. Nove anos depois, o número de mulheres no vinho é ainda maior.
Na verdade, a presença das mulheres nas vinhas e nas adegas começa a ser um não-assunto. Seria notícia se o sector continuasse fechado ou se ainda fosse ostensivamente marialva. Não é o caso, embora ainda haja nichos demasiado masculinizados (o vinho do Porto é um deles, apesar de, e paradoxalmente, ter sido a origem de uma das referências femininas do sector, Dona Antónia Adelaide Ferreira, “a Ferreirinha”, a primeira grande empresária do vinho). Também seria notícia se ocorresse uma inversão total do poder - não por as mulheres chegarem ao poder, mas pela velocidade da mudança.
O que está a acontecer no vinho, como resumiu muito bem na altura Graça Gonçalves, responsável pelos vinhos da Quinta do Monte d'Oiro, é o que está a acontecer noutras áreas de actividade. “Antes não víamos mulheres na tropa, agora vemos. Antes não havia mulheres a conduzir autocarros, agora há. (…) Hoje as coisas acontecem mais naturalmente. Antes, só estavam no vinho as filhas ou as mulheres dos proprietários. Os homens só queriam as mulheres para os laboratórios, para estarem ali paradinhas.”
O mundo do vinho democratizou-se. Se voltamos a olhar para a crescente presença das mulheres em toda a cadeia do vinho, não é para exaltar a novidade, é mais para reflectirmos sobre as dinâmicas do sector e a influência feminina na renovação e desenvolvimento do vinho português. Repetimos algumas escolhas, pelo seu pioneirismo, e voltamos, por falta de espaço, a deixar de fora muitas mulheres que mereciam o reconhecimento público. Mas cada linha deste trabalho tem o peso e o desejo simbólico de uma vénia a todas elas (e a eles também, para sermos politicamente correctos!).