Fotografia
Quando a arquitectura imita a natureza
Olhando para dois cenários distintos, um criado estritamente pelo ser humano e outro quase inteiramente natural, será possível estabelecer semelhanças? O arquitecto e fotógrafo Marcos Moreira acredita que sim, que directa ou indirectamente a criação arquitectónica mimetiza o espaço natural. E para comprovar esta "tese", criou um conjunto de dípticos, elaborados a partir no seu arquivo fotográfico, que comunicam visualmente entre si.
"Seja pelo enquadramento que a luz e a projecção das sombras produzem num determinado espaço", ou pela forma como se "envolvem" a água e as rochas, o "resultado torna-se num mesmo ambiente que aproxima as duas fotos de uma só realidade", pode ler-se na sinopse da série Natureza da Construção. "O arquitecto está constantemente a recriar o mundo à sua volta", justifica. "Não exactamente a criar, mas a recriar", sublinha. "O arquitecto trabalha a partir da memória e das suas referências, umas conscientes, outras de forma inconsciente, e é a partir deste pressuposto que surge esta série fotográfica e esta vontade de explorar as semelhanças entre estes dois tempos."
Natureza da Construção nasceu em Abril, durante o período de confinamento, e continua em desenvolvimento. "Não podia sair de casa nessa altura, por esse motivo decidi explorar o meu arquivo fotográfico", disse o arquitecto portuense de 28 anos ao P3, em entrevista. Não realizou novas fotografias para criar o casamento perfeito, limitou-se a celebrar uniões entre as que já existiam. A fotografia faz parte da sua vida desde a adolescência, mas foi o Instagram o motor do depuramento do seu olhar e do seu interesse por essa arte. Gostaria, eventualmente, de transpor o seu trabalho para o mundo físico, numa exposição fotográfica in loco, para "observar a reacção das pessoas". Mas, por ora, enquanto a pandemia não deixa, partilha connosco o seu trabalho a partir do ecrã.