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A agricultura intensiva enterrou os pequenos agricultores — e JR fez uma homenagem às “sementes”
A agricultura intensiva pode ter matado a agricultura camponesa, mas os habitantes do planalto de Alfina juntaram-se para lhes dizer: “Vocês enterraram-nos, mas não sabiam que éramos sementes.”
Omelia Contadina é a nova acção cinematográfica do artista francês JR e da cineasta italiana Alice Rohrwacher, em conjunto com camponeses italianos que se juntaram na fronteira entre Umbria, Lazio e Toscana para encenarem o seu próprio funeral. “Enquanto olhávamos para a paisagem com as fileiras intermináveis de avelãs, comentámos um com o outro que parecia um cemitério. Foi aí que decidimos: se parece um cemitério, temos de fazer um funeral. Não apenas um funeral, mas também um hino de esperança dedicado a todos aqueles que nos mantêm vivos dia após dia, produzindo os alimentos que comemos”, contou Alice Rohrwacher, durante a apresentação do filme de dez minutos na Bienal de Veneza, agora disponível no YouTube.
Filha de um apicultor, a cineasta preocupava-se não só com a mudança na paisagem que usou como cenário para o premiado O País das Maravilhas (2014), mas com a perda de biodiversidade provocada pela monocultura de avelã e os subsídios e pesticidas necessários para alimentar as dezenas de milhares de hectares que serão plantados em Itália até 2023 — em grande parte para produzir Nutella, o creme de avelã e cacau que ajudou a italiana Ferrero a transformar-se numa multinacional.
Na homilia não se homenegeiam apenas os agricultores fotografados por JR e transformados em imagens gigantes, como a criança de 20 metros que o artista pôs a espreitar por uma vedação na fronteira entre o México e os Estados Unidos da América. O filme também enaltece as tradições milenares, a troca de sementes, o sentido de comunidade e a protecção do solo e da água que sustentam a agricultura tradicional. “Um dia vão voltar para a procurar, quando perceberem o trabalho preciosos e altruísta que providenciou durante milhares de anos, sem esperar nada de volta. Mas não a encontrarão. Reinará uma Primavera silenciosa.”