Mario Vargas Llosa diz que destituição do Presidente do Peru violou Constituição

Escritor peruano condena o processo de afastamento de Martín Vizcarra e a violência policial - há quatro dias que a população se manifesta nas ruas. O Peru vive “uma situação absolutamente lamentável de confusão e anarquia”.

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Mario Vargas Llosa Reuters

O Parlamento do Peru “violou a Constituição” ao destituir, nesta semana, o Presidente Martín Vizcarra, disse o escritor Mario Vargas Llosa. Vizcarra foi acusado de corrupção.

“Creio que a Constituição peruana é muito clara, um Presidente pode ser acusado, mas só pode ser investigado no termo do seu mandato”, disse o escritor peruano e Prémio Nobel da Literatura numa entrevista ao diário El Comercio.

O escritor, que recebeu o Nobel em 2010, considerou que a decisão violou “de forma claríssima” a Constituição, sublinhando que essa é também a opinião de vários juristas peruanos, incluindo o antigo primeiro-ministro Pedro Cateriano, que classificou a destituição como “um verdadeiro golpe de Estado”.

Vargas Llosa criticou ainda a polícia por usar de força excessiva para reprimir as manifestações que começaram há quatro dias no país, com milhares de cidadãos nas ruas.

“Creio que a acção policial, que tem sido extremamente violenta, deve ser condenada”, disse o autor, acrescentando que a demissão de Vizcarra “foi claramente condenada pela maioria da população peruana”.

Vargas Llosa afirmou que o Peru enfrenta “uma situação absolutamente lamentável de confusão e anarquia” e que a nível internacional existe confusão devido a uma “situação absolutamente invulgar”.

O escritor defendeu que é “fundamental” que o Governo de transição, assumido pelo presidente do Parlamento, Manuel Merino, respeite o calendário das eleições gerais convocadas para Abril do próximo ano.

“O que aconteceu é absolutamente lamentável e estes deputados que perpetraram [a destituição] serão, a curto ou longo prazo, sancionados pelo povo peruano”, concluiu o Prémio Nobel.

Pelo menos 15 mil pessoas saíram à rua na capital peruana na quinta-feira, no quarto dia consecutivo de protestos contra a destituição de Vizcarra, com os manifestantes a afirmarem que o novo chefe de Estado “não foi eleito pelo povo” e a exigirem a renovação da classe política.

Segundo a agência de notícias Efe, que cita organizações de direitos humanos, a polícia fez pelo menos 16 detenções, com muitos manifestantes a acusarem a polícia de força excessiva.

Os protestos estenderam-se igualmente a várias cidades do interior do país.

O Parlamento do Peru destituiu na segunda-feira o Presidente Vizcarra, por “incapacidade moral”, no seguimento da segunda moção de censura apresentada. A moção para destituir o chefe de Estado teve como motivo subornos recebidos por Vizcarra em 2014, quando era governador, e teve mais votos do que os 87 (de 130 deputados) necessários para a destituição.

O presidente do Parlamento, Manuel Merino, assumiu um dia depois, a presidência até ao final do mandato, em 28 de Julho de 2021.