Coimbra
Serra do Açor, uma história de amor
Esta é uma história de amor entre o homem, a natureza e os animais. Desde há muito que o interior de Portugal se despovoa, seja pela falta de interesse na continuação do trabalho no campo, seja pela utopia das cidades de uma vida mais cheia e rica. O êxodo para as metrópoles deixou aldeias ao abandono, casas em ruínas, terras tomadas pela natureza e à mercê dos incêndios.
Mas a vivência desligada da terra, a massificação urbana e uma sociedade virada para o consumo e para a tecnologia trouxeram também o interesse de muitos em voltar para a calma do interior. Procuram a vida perdida de gerações anteriores e dão-lhe uma nova energia e significado. Vêm com o sonho de viver mais perto da natureza, tratar dela. Viver de uma forma mais sustentável e onde o círculo de utilização é completo. Usar o que a terra dá, para comer, construir, curar e meditar.
Na serra do Açor, estima-se que vivam já mais de mil novos habitantes nos concelhos da região. A maior parte estrangeiros, mas também alguns portugueses que voltam a dar vida às terras. Na zona da Benfeita, há agora 35 crianças que devolveram à aldeia a vida e energia que há muito dali andavam arredadas.
Lutam a favor das espécies autóctones da floresta e contra do eucalipto, reconstruíram as casas devoradas pelas chamas em Outubro de 2017, reergueram a comunidade. A maior parte dedica-se à “permacultura” e alguns recebem voluntários que se interessam por aprender. Muitos acabam por comprar terreno e começam uma nova vida. Uma vivência onde há tempo para plantar, trabalhar, descansar e, principalmente, para as relações humanas.
Aprendem os velhos costumes, as técnicas de xisto e dão-lhes uma nova vida. Misturam a arquitectura do passado com madeiras vindas dos fogos e juntam-lhe o que a natureza tem. Há quem tenha cabras e ovelhas. Todas têm nome.
Criaram uma nova economia, uma moeda própria — a estrela —, dois mercados de produtos artesanais, uma escola, uma associação criativa e uma loja de roupa em segunda mão, entre muitas outras coisas. Juntam-se para os interesses comuns, mas vivem de forma autónoma, cada família com o seu próprio projecto.
A vida nem sempre é fácil, o trabalho na montanha é por vezes árduo, mas a vontade é maior do que a dificuldade. Unem-se para o bem comum e em torno da natureza.
A exposição Na Terra pode ser vista no Centro Português de Fotografia, no Porto, até ao dia 3 de Janeiro.
- Wildlings: uma montanha de utopias (conjuntas) na serra do Açor