O PSD tem um aliado novo, o Chega
Esta vai ser a linha de argumentação do PSD e da direita em geral para acolher o Chega – tornar equivalentes dois partidos que não põem em causa a Constituição com o partido de Ventura.
Depois de André Ventura ter anunciado que existia um acordo entre o seu partido e o PSD para viabilizar um governo dos Açores liderado por José Manuel Bolieiro, Rui Rio ficou num silêncio pesado. Rui Rio e Bolieiro acharam que não havia nada a declarar. É possível que seja o silêncio dos envergonhados. Deve existir ainda uma réstia de social-democracia na São Caetano à Lapa e em Ponta Delgada que os impede de assumirem publicamente que se associaram ao Chega e vão diminuir o rendimento social de inserção nos Açores, a região onde o risco de pobreza é maior no país. Para quem sempre se afirmou um social-democrata, é mais um prego no caixão ideológico.
Não podemos dizer é que não sabíamos. Rui Rio disse ao que vinha. Em entrevista à RTP, no dia 29 de Julho, admitiu acordos com o Chega – o entendimento nos Açores acaba por ser uma consequência lógica desse abrir de portas. À luz dos recentes acontecimentos, tudo ainda é mais claro. Mas é verdade que no Verão Rui Rio achava que o Chega era um partido “em muitos casos de extrema-direita, muito longe” dele que estava “ao centro”. E também que “se o Chega continuar numa linha de demagogia, de populismo, da forma como tem ido” haveria “um problema, porque aí não é possível um entendimento com o PSD”. Afinal, três meses e meio depois, é possível.
André Lima, da direcção do PSD, veio criticar a conferência de imprensa do secretário-geral adjunto do PS que condenou o acordo dos Açores. Argumentos do dirigente social-democrata: primeiro, o acordo não é nacional. Sim, é naquele sítio a caminho da América ignorado por uma elevada parte dos portugueses e depois será, já se está a ver, nas próximas autárquicas. Segundo, o PS tem o “topete” de criticar alianças com o Chega, quando em 2015 fez um acordo parlamentar com Bloco e PCP.
Esta vai ser a linha de argumentação do PSD e da direita em geral para acolher o Chega – tornar equivalentes dois partidos que não põem em causa a Constituição com o partido de Ventura. Para espanto de muitos, o PSD escolheu achar aceitável o tal partido “em muitos casos de extrema-direita” para seu compagnon de route. Se as eleições se ganham ao centro, o que pensará o centro desta viragem do PSD, agora refém de Ventura na Região Autónoma dos Açores? A direita moderna, europeia e liberal – que também existe no PSD e no CDS – deve estar arrancar os cabelos.