Covid-19: jovens e mulheres duas vez mais propensos para depressão e ansiedade em confinamento
Os sintomas depressivos são mais facilmente encontrados em “mulheres e pessoas insatisfeitas com a sua saúde e rendimento económico” e que referiam ser “pouco espirituais”, às quais se acrescentam os jovens, no caso da ansiedade.
As mulheres e os jovens apresentaram duas vezes mais propensão para a depressão e ansiedade durante o confinamento imposto para travar a pandemia de covid-19 em Portugal, indicam dados preliminares de um estudo internacional sobre o impacto do confinamento na saúde mental, coordenado em Portugal por investigadores da Universidade do Algarve.
Os sintomas depressivos são mais facilmente encontrados em “mulheres e pessoas insatisfeitas com a sua saúde e rendimento económico” e que referiam ser “pouco espirituais”, às quais se acrescentam os jovens, no caso da ansiedade, descreve Helena José, responsável portuguesa pela investigação.
“Há prevalência de sintomas depressivos e de ansiedade generalizada mais evidentes em mulheres, duas vezes mais do que nos homens, e quanto mais jovens são, mais se evidencia, sendo duas vezes mais propensos que o resto da população”, continua a investigadora.
O estudo baseou-se em inquéritos conduzidos em Maio a um total de 918 pessoas, entre os 15 e os 80 anos, residentes em Portugal continental e ilhas. Os dados parecem revelar que a idade e o casamento são “factores de protecção”, com a possibilidade de a experiência de vida poder “criar alguma resiliência” às adversidades, assim como uma vida a dois, refere ainda a professora. “Quanto mais jovens são, mais ansiosos são, sendo que as mulheres acumulam: são mais depressivas e mais ansiosas”, reforça.
Um dado que parece ter surpreendido os investigadores foi um esperado aumento do consumo de bebidas alcoólicas, ainda assim “abaixo do que era esperado”, aponta. Com os resultados finais desta primeira amostragem a serem conhecidos daqui a três semanas, há ainda algumas “relações e ilações” que a equipa vai procurar retirar da correlação entre os dados recolhidos.
O objectivo, sublinha, é permitir um outro olhar para a realidade, nomeadamente “o impacto nos vários profissionais de saúde”, segmento em que o estudo tem uma “considerável amostra”. Dentro de dias terá início a segunda parte do estudo, que vai recolher novos dados para compará-los com os recolhidos em Maio, no sentido de “perceber o aconteceu neste período” mais recente da pandemia.
Das 918 pessoas inquiridas, 42% eram casadas e mais de 70% mulheres. Dos casados, a maioria (35,8%) referiram sintomas depressivos, mas também de ansiedade generalizada (20%). A maioria dos indivíduos tinha nacionalidade portuguesa, 85% não tinham familiares ou amigos com covid-19 e 377 eram profissionais de saúde, dos quais, 280 enfermeiros. Cerca de 38% dos inquiridos ficou em teletrabalho e 17,6% manteve-se a trabalhar com o mesmo horário.
Dos inquiridos, 56,3% não praticaram actividade física durante o confinamento e 85,6% não utilizaram serviços de saúde. Além disso, 55% dos inquiridos não consumia bebidas alcoólicas, contudo 16,6% aumentou o consumo de bebidas.
No estudo participam também investigadores da Universidade de Évora, da Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Leiria e de universidades brasileiras.