EUA e Índia assinam tratado militar e reforçam aliança contra a China

Acordo prevê partilha de informação cartográfica recolhida por satélite – essencial para ataques com mísseis e drones – e surge num período de grande tensão entre Nova Deli e Pequim, por causa da fronteira dos Himalaias.

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Acordo foi assinado pelos responsáveis pelas pastas da Diplomacia e da Defesa dos Governos de EUA e Índia EPA/INDIAN MINISTRY OF DEFENCE /HANDOUT

Os Estados Unidos e a Índia assinaram esta terça-feira um importante tratado militar, que permite o acesso das Forças Armadas de ambos os países à informação cartográfica recolhida pelos seus respectivos satélites. 

O acordo surge num dos períodos de maior tensão entre Nova Deli e Pequim, muito por culpa do reactivamento do diferendo histórico entre os dois gigantes asiáticos na fronteira dos Himalaias, causado por um confronto entre as forças de segurança indianas e chinesas na região de Ladakh, em Junho, que resultou na morte de 20 soldados indianos.

Na hora de anunciar o compromisso militar e seguindo a estratégia de confrontação retórica com a China propalada pelo Presidente Donald Trump, os representantes norte-americanos não hesitaram em promovê-lo como uma ferramenta de contenção de Pequim.

“Estão a acontecer grandes coisas e as nossas democracias estão a alinhar-se para protegerem melhor os cidadãos dos dois países e do mundo livre”, afirmou o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, a partir da capital indiana.

“Os nossos líderes e cidadãos vêem com cada vez mais clareza que o Partido Comunista Chinês não é amigo da democracia, do Estado de direito, da transparência ou da liberdade de navegação – os alicerces de uma Ásia-Pacífico livre, aberta e próspera”, acusou o chefe da diplomacia dos EUA, citado pela Reuters.

O Acordo de Partilha e Cooperação Básicas sobre Cooperação Geoespacial (BECA, na sigla em língua inglesa) pressupõe a partilha de dados topográficos, náuticos e aeronáuticos recolhidos pelos dois países. Informação valiosa para o planeamento e execução de ataques com mísseis ou drones, segundo os analistas.

Fonte do Ministério da Defesa da Índia disse à Reuters que o BECA também permite que os EUA incluam os seus próprios sistemas de navegação nas aeronaves e drones que vão fornecer, no futuro, à Índia.

Um pormenor relevante e que tem potencial para acicatar os ânimos de outra potência adversária dos EUA, a Rússia. Isto porque os russos são um dos principais fornecedores de equipamento militar à Índia – entre 60% e 70% do seu inventário militar foi comprado a Moscovo, informa a BBC.

Mike Pompeo chegou na segunda-feira a Nova Deli, acompanhado pelo secretário da Defesa, Mark Esper. Os dois membros da Administração Trump encontraram-se com o ministro indiano dos Negócios Estrangeiros, Subrahmanyam Jaishankar, e com o ministro indiano da Defesa, Rajnath Singh.

“O facto de dois dos secretários mais importantes do Governo americano terem decidido viajar para se encontrarem pessoalmente com os seus homólogos, em tempos de covid, e a uma semana das eleições presidenciais dos EUA, é uma indicação de como foram importantes estas negociações”, destaca o correspondente da BBC em Nova Deli.

“O tema dominante desta viagem é a contenção da influência da China na região”, considera Rajini Vaidyanathan.

O reforço da aliança militar com a Índia é só mais um episódio de uma novela já longa de tensões e desafios dos EUA à China, iniciada com a guerra comercial promovida por Trump. 

As duas potências têm estado envolvidas em conflitos económicos e diplomáticos em redor de temas tão distintos como as disputas territoriais no mar do Sul da China, a gestão chinesa do surto inicial de covid-19 em Wuhan, a autonomia de Hong Kong ou o debate sobre rede 5G chinesa na Europa.

Esta terça-feira, um representante diplomático chinês voltou a insistir que os EUA são os principais responsáveis pelo ponto mais baixo das relações entre os dois países desde 1979.

“Instamos Pompeo a abandonar a sua mentalidade de Guerra Fria e de jogos de soma zero, e que pare de bater na tecla da ‘ameaça chinesa’”, disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministérios dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China.

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