Economia de Angola recua 8,8% no segundo trimestre

Queda registada entre Abril e Junho sucede a variação homóloga negativa de 0,5% nos primeiros três meses deste ano, após quatro anos de quedas anuais

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João Lourenço é presidente de Angola desde Setembro de 2017 Reuters/POOL

A economia de Angola registou uma contracção de 8,8% no segundo trimestre deste ano face ao período homólogo, anunciou hoje o Instituto Nacional de Estatística (INE) daquele país, atribuindo esta “desaceleração acentuada” à pandemia de covid-19.

“A desaceleração acentuada da actividade económica reflectiu o impacto da pandemia da covid-19, que se fez sentir no referido trimestre”, lê-se no comunicado sobre as contas de Abril a Junho, que salienta que “a variação negativa é atribuída, fundamentalmente, às actividades de Pesca (menos 27,8%), Petróleo (menos 8,2%), Extracção de diamantes (menos 15,6%), Construção (menos 41,0%), Comércio (menos 0,1%), Transporte (menos 78,9%), Governo (menos 7,1%), Imobiliária (menos 17,6%), Impostos (menos 53,6%), outros serviços (menos 2,1%), Indústria Transformadora (menos 4,0%) e Subsídios (menos 71,7%)”.

A divulgação das estatísticas relativamente ao segundo trimestre, feita durante uma conferência de imprensa esta manhã, surge depois da demissão do presidente do INE, Camilo Ceita, que a comunicação social local atribui ao facto de ter sido apresentado uma versão preliminar do documento, no qual a queda do PIB no segundo trimestre era de 12,7%, que terá merecido a discordância do Governo, tal como terá também acontecido em Janeiro relativamente aos números da inflação.

Num email de despedida aos trabalhadores, citado por vários jornais angolanos, o agora ex-presidente salientou que “a autonomia é um dos pilares dos INE e o INE de Angola, nossa casa grande de equilíbrio da Democracia, não deve nunca descorar dela”.

A Lusa questionou a direcção do INE sobre esta alegada diferença entre o relatório inicial e o que foi publicado, durante a conferência de imprensa que decorreu com transmissão no Facebook, mas não houve resposta para esta pergunta.

No encontro com os jornalistas, a nova directora-geral do INE angolano lembrou que a queda do PIB no segundo trimestre face ao período homólogo resulta dos “problemas estruturais que estão na nossa economia, e que foram agravados pelo impacto da pandemia de covid-19”. Channey Rosa John alertou ainda que “a pandemia não vai terminar agora” e concluiu que “estão a ser tomadas medidas para ver o que se consegue fazer para termos uma economia saudável e restaurada”.

Durante a conferência de imprensa, a direcção do INE foi também questionada sobre o impacto de uma queda de 8,8% no segundo trimestre, que se junta à variação negativa de 0,5% nos primeiros três meses deste ano, que por sua vez surge na sequência de quatro anos de evolução anual negativa.

“O mundo em geral está a passar por um momento muito difícil, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aponta para uma quebra acima de 4%, e Angola não é um país isolado, essas questões afectam significativamente o país, sendo que Angola não foi só afectada pela pandemia, já vinha experimentando recessões ao longo dos últimos quatro anos, que foram agravadas com a situação da pandemia”, disse a directora adjunta do departamento económico.

De seguida, acrescentou: “O INE faz inferência estatística, não define a política macroeconómica, apresenta a fotografia do ponto de vista da caracterização, para ajudar os decisores de política macroeconómica a tomarem decisões coerentes, consistentes e que certamente vão impactar a vida de todos nós; o que o INE deve fazer para ajudar a tomar essas decisões é entregar e colocar à disposição dados estatísticos fiáveis e credíveis que vão permitir a tomada de decisões de política macroeconómica”.