A alimentação pode fazer diferença no combate ao cancro da mama, mas o rastreio é o mais importante

“Há muita curiosidade” em relação à dieta e à prevenção do cancro da mama, mas especialistas relembram: prevenção não existe, a palavra de ordem é “rastreio”.

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FERNANDO VELUDO/ NFACTOS

No mês dedicado à luta contra o cancro da mama, os especialistas alertam para a necessidade de fazer rastreio, mesmo em tempo de pandemia. “Houve milhares de rastreios que ficaram por fazer”, alerta André Chagas, gestor do Fundo iMM-Laço, organismo que disponibiliza informação, sensibiliza a sociedade civil sobre o cancro da mama e apoia a investigação.

Desde Março que as pessoas deixaram de ir ao centro de saúde ou ao hospital por causa da pandemia. No entanto, André Chagas apela a que se perca o medo até porque, no caso do cancro da mama, como noutras doenças, é importante fazer rastreios. “Não há prevenção, mas sim diagnóstico precoce”, reforça ao PÚBLICO. “O cancro não é uma sentença de morte”, defende. 

Também as investigadoras Ana Magalhães e Sofia Mensurado reafirmam que só o rastreio poderá ajudar e possibilitar que, identificado, o cancro não chegue a uma fase avançada.

Metionina e Lipoproteína de Baixa Densidade (LDL) são dois componentes que encontramos nos alimentos que ingerimos no nosso dia-a-dia e estão a ser estudados pelas duas investigadoras pela possibilidade de poderem combater o cancro da mama.

Ana Magalhães centra o seu estudo no desenvolvimento de metástases (quando o tumor se espalha para outro local do corpo), a principal causa da morte no cancro da mama. Partindo de um estudo anterior do seu laboratório (Biologia Vascular & Microambiente do Cancro, coordenado por Sérgio Dias) que indicava “que as mulheres que têm níveis mais elevados de LDL no sangue normalmente são as que têm tumores maiores e que têm piores prognósticos”, a investigadora quer descobrir o porquê disso acontecer e como bloquear.

O que é o LDL? É o que, no senso comum, chamamos de “mau colesterol” – presente “numa alimentação pouco saudável, rica quer em carbohidratos quer em gorduras”, explica a bióloga celular. “Não tenho a menor dúvida que um estilo de vida saudável e uma dieta equilibrada influenciam o desenrolar da doença”, afirma.

A investigadora explica que “todas as células precisam de colesterol”, mas isso também faz com que as células entrem nos vasos sanguíneos e possam dar origem a metástases. “Se nós conseguirmos bloquear a capacidade de o colesterol entrar na célula tumoral, talvez consigamos impedir que essas células entrem nos vasos sanguíneos e que formem metástases.”

Por seu lado, Sofia Mensurado, também investigadora no iMM, estuda um elemento presente na nossa dieta, a eficácia da metionina (um aminoácido, componente das proteínas) no potenciamento da imunoterapia. Esta, que já tem dado resultados positivos no cancro do pulmão e da pele, foi recentemente aprovada para um tipo de cancro da mama. “A imunoterapia é um tipo de tratamento que utiliza o sistema imunitário para combater o tumor”, explica.

No seu estudo observou que quando se combina “um tipo de imunoterapia com este aminoácido os tumores crescem menos do que quando tratamos apenas com imunoterapia”. Porém, Sofia Mensurado salvaguarda que este estudo apenas se aplica a um modelo de cancro da mama, noutros “é possível que [este aminoácido] tenha um efeito adverso”.

A investigadora admite que “há muita curiosidade” em relação à dieta praticada e à prevenção de cancro, mas não quer incentivar ninguém a suplementar-se com este aminoácido. E lembra que a ciência se faz de “pequenos passos” e que ainda faltam muitos até a investigação ser aplicado em humanos. Para já está a ser feita em ratinhos. “E mesmo quando [a investigação] chegar aos humanos, a verdade não é absoluta para todos os doentes”, conclui.

Investigação financiada com campanhas

O Fundo iMM-Laço surgiu graças à parceria da Associação Laço com o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM), em 2015. Desde então, tem apoiado vários projectos de investigação na área do cancro da mama e, anualmente, apoia dois novos projectos de investigação, cada um no valor de 25 mil euros.

André Chagas informa que, apesar de o mês de Outubro ser o da sensibilização, o trabalho do Fundo vai além disso. Anualmente são feitas palestras, algo que este ano não se pôde realizar devido à pandemia de covid-19. No entanto, nem por isso ficaram parados. Às quintas-feiras — a última será no próximo dia 30, às 21h30 —, aconteceram as “talks online, no Instagram [da Nestlé Fitness], realizadas em parceria com a Nestlé Fitness”. São as Pink Ribbon TALKS com uma duração de 45 minutos. “Por cada pessoa que estiver a assistir a Nestlé doa um euro ao Fundo”, refere André Chagas, admitindo que se pandemia continuar, estas iniciativas online poderão ser mais regulares em 2021.

Também o Hard Rock Café está a apoiar através de uma campanha de angariação de fundos. Os clientes são convidados a contribuir com dois euros na entrada de cada concerto. A nível internacional, esta marca apoia a investigação e a cura do cancro com uma campanha de venda de merchandising, que termina no dia 29: 10% das vendas revertem a favor da Hard Rock Heals Foundation.

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Na campanha realizada no Outono passado angariaram-se 7956 euros DR

Por seu lado, os clientes da Women's Secret podem contribuir para a investigação na compra de uma das quatro cuecas solidárias que a marca tem à venda durante este mês. Neste caso, contribuirão para o estudo da interacção genética dos tumores – como prever a resposta à quimioterapia em mulheres com cancro da mama em estádios. No ano passado a iniciativa angariou 7956 euros.

Além destas marcas, o Fundo iMM-Laço trabalha com a marca Pioneer, do grupo Navigator, que, a par com a Fitness da Nestlé, são os principais patrocinadores. Em 2020 fez ainda parceria com a farmacêutica Isdin, que em colaboração com as farmácias, por cada unidade vendida de Woman Isdin, a gama dedicada ao bem-estar da mulher, e Ureadin Rx Rd, a loção protectora específica para pele submetida a radioterapia, a Isdin irá doar um euro. Em 2019, angariou 3500 euros.

“O apoio da sociedade civil é importante para a investigação”, reforça Sofia Mensurado, acrescentando que sem o apoio do Fundo iMM-Laço, “que angaria fundos junto de empresas e pessoas particulares”, o seu trabalho seria mais difícil. “É mesmo importante a contribuição de toda a gente”, conclui. 

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