A menopausa continua a ser um tabu e os seus sintomas afectam negativamente a vida pessoal da maioria das mulheres. Mas não só, os sintomas prejudicam a actividade profissional de quase um quarto das mulheres e em 5% provoca absentismo laboral, lembra Fernanda Geraldes, presidente da secção menopausa da Sociedade Portuguesa de Ginecologia (SPG), citando dados de um estudo de 2018. Daqui a dez dias assinala-se o Dia Mundial da Menopausa, mas nesta quinta-feira o tema é discutido por médicos, nutricionistas e farmacêuticos, num evento promovido pela Vichy, da L’Oréal, pelo segundo ano consecutivo, e com o apoio da SPG. Chama-se “Mulheres sem pausa” e, para a especialista, trata-se de um nome “feliz”, uma vez que é isso mesmo que se quer transmitir: que a menopausa não deve ser argumento para as mulheres pararem de viver.
Fernanda Geraldes pega no exemplo de Meryl Streep e de outras actrizes que não abandonaram as suas carreiras por causa da menopausa. “Estamos a tentar sair do paradigma de que as mulheres menopáusicas deixam de ser mulheres. Elas têm carreiras brilhantes, continuam a ter os papéis principais, a ser admiradas. As mulheres [no geral] estão mais cientes do seu poder em desempenhar um papel principal”, defende. “Há uma pausa na menstruação, mas continuam a ser mulheres, não há pausas em tudo o resto, podem continuar a viver, a ter a sua carreira, a sua sexualidade, a sua felicidade”, reforça.
A ginecologista e especialista em medicina sexual Lisa Vicente é da mesma opinião: “Eu conheço muitas mulheres com 50 anos que são muito produtivas e muito bonitas.” A médica considera que há uma “nova geração de mulheres muito activa, muito produtiva e que percebe que a sua qualidade de vida piora sem o apoio de terapias hormonais e de outras.” Como a esperança média de vida de uma mulher é 83 anos e a menopausa ocorre por volta dos 50, cerca de um terço da vida das mulheres decorre nesse período, que inclui cerca de 20 anos de trabalho pela frente. Em 2030 deverão existir 1,2 milhões de mulheres no mundo com mais de 50 anos, informa a SPG em comunicado.
Contudo, alguns dos sintomas podem interferir na qualidade de vida das mulheres. A saber: afrontamentos, alterações de sono, irritabilidade, ansiedade, maior propensão para doenças cardiovasculares e osteoarticulares. “A menopausa tem custos económicos e sociais sobretudo numa fase da vida da mulher em que muitas vezes tem responsabilidades profissionais muito exigentes”, diz Fernanda Geraldes.
Vida sexual activa
Segundo a SPG, em Portugal são poucas as mulheres que recorrem a tratamentos hormonais na menopausa. No entanto, os médicos aconselham-nas a procurar ajuda dos especialistas, mesmo nesta altura em que muitos portugueses evitam a ida aos hospitais e centros de saúde. Lisa Vicente lembra que no início deste século houve um grande estudo que pôs em causa as terapias hormonais e que, passados dez anos, se percebeu que a referida investigação tinha fragilidades. Portanto, estas terapêuticas são importantes para tratar os sintomas da menopausa, refere, de maneira a “devolver qualidade de vida às mulheres”. Mas há outras não hormonais, que também são prescritas pelos médicos, acrescenta Fernanda Geraldes, como os cremes vaginais.
No encontro desta noite, que depois será disponibilizado online, Lisa Vicente vai falar na questão sexual que, por vezes, é negligenciada, como se depois dos 50 anos as mulheres já não tivessem desejo sexual. O que acontece, a partir de certa idade, é que a lubrificação vaginal é menor, o que pode tornar a relação dolorosa. “Costumo dizer às minhas doentes que se usamos cremes de beleza para a cara, também temos de usar para a vagina, tenham ou não vida sexual. Só isso melhora muito a vida de uma mulher”, defende Fernanda Geraldes, acrescentando que esta “é para todas e para toda a vida”. É que a secura vaginal, continua, pode interferir com a vontade de urinar, alerta.
A menopausa não deve ser só um assunto de mulheres, defende a SPG, mas também dos seus companheiros. “Os homens notam as alterações de humor”, exemplifica Fernanda Geraldes. O mesmo acontece em casais lésbicos, acrescenta Lisa Vicente. Logo, esses parceiros interessam-se cada vez mais pelo tema e procuram conhecer melhor o que se passa, continua a responsável da SPG — organização que disponibiliza um site com informações úteis. Se, por um lado, a menopausa continua a ser um assunto tabu; por outro, a sociedade está cada vez mais desperta para este período na vida das mulheres que “não é o fim da linha”, conclui Fernanda Geraldes.