Segunda Temporada da Série Covid 2020 – Com a coragem de vencer!
No regresso ao novo ano de trabalho, encontramos a mesma atipia que caracteriza este ano de 2020, fazendo dele um ano ímpar nas nossa vidas – na nossa História!
No regresso ao novo ano de trabalho, encontramos a mesma atipia que caracteriza este ano de 2020, fazendo dele um ano ímpar nas nossas vidas – na nossa História!
O cansaço acumulado nos últimos meses desgasta-nos, esboroando aos poucos a energia vital que nos move na direcção do futuro, a cada dia, todos os dias. Alguns esgotaram as forças pelo excesso de adaptação; outros fizeram força para se aguentar como guerreiros-heróis, combatendo com genica a ameaça maior acreditando que são invencíveis. Pelo meio, as férias sagradas que, como em quase todos os anos prometem descanso, diversão, amigos, viagens, praia e sol, comida boa e conversas até às tantas. Porém, este ano trazemos peso em vez de leveza; apreensão em vez de entusiasmo; cansaço em vez de disposição e, encontramos em cima da mesa uma montanha gigante de trabalho para fazer.
Na esfera da psicologia e da saúde mental e psicológica, os primeiros meses deste ano foram uma espécie de teste para todos. Um teste à nossa capacidade de adaptação a uma situação adversa, que nos exigiu regras comportamentais substancialmente diferentes das habituais – tarefa que cumprimos muito bem. Mas também um teste, maior ainda, à nossa capacidade de resistência emocional e afectiva – à nossa resiliência! Viver de forma adaptada comportamentalmente não chega para percorrer com saúde mental e psicológica a nova temporada que agora começa. Muitos dos que já escutei na consulta de psicologia clínica, quase sucumbem ao desespero. Num acúmulo de ansiedade tão desgastante quanto inútil, acrescentam uma tristeza latente, profunda. Desarmante, que desanima, alimentando um prenúncio de impossibilidade, de tarefa inglória. O adoecer depressivo antecipa-se, fazendo perder de vista a diferença entre saúde e doença – entre o querer e o poder!
Importa agora que o querer com máxima intensidade persista, integrando neste segundo tempo que o poder de cada um de nós é limitado e, por isso, o nosso “trunfo dourado”. Importa, por isso, fazer algumas distinções entre o que sentimos e experienciamos que pode indiciar a presença de adoecer, o que é natural, incontornável nestas circunstâncias e prova de saúde mental.
É normal que continuemos a viver os dias numa tensão ansiogénica que é, também, o que nos permite mantermo-nos ancorados na realidade que vivemos. É essa tensão que nos reforça o poder de cumprir com rigor as regras comportamentais conhecidas. É normal que nos sintamos cansados, uma vez que a manutenção desses níveis de ansiedade nos gasta energia interior, para a sua gestão adequada. É normal que, no entretanto, alguma tristeza nos povoe cá dentro. Afinal, por mais que possamos, não vislumbramos um fim à vista. Afinal, o esforço necessário da adaptação comportamental parece vir agregado a uma exigência desumana – precisamos manter distância física dos outros, particularmente do que amamos. É normal que nos sintamos entristecidos pelos aniversários que este ano não comemorámos juntos, pelas viagens de lazer que não fizemos, pelos abraços e beijinhos que não damos, pela suspensão do convívio estimulante entre todos. Tudo isto é naturalmente depressivante. Este tempo exige-nos a manutenção do amor dos nossos vínculos em forma, ainda que maioritariamente cá dentro do peito. E exige igualmente que, nessa manutenção vinculativa interior, convivamos com a incerteza do recíproco, o que, desde logo, nos prenuncia a vivência de perda!
É natural, pois, que entremos nesta segunda temporada numa mistura de sentimentos de “tem de ser”, mas “não queríamos nada”. Em ambivalência afectiva e, também, com alguma insegurança narcísica – até onde e como nos podemos aguentar. Será que somos realmente capazes? Sim. A resposta é “Sim, sem dúvida!” Como? Com coragem de assumir que no primeiro período nos testámos com máxima qualidade. Agora é tempo de (em plena integração de tudo o que já aprendemos e reformulámos) seguir em frente com convicção. Voltemos às nossas cadeias de entreajuda para proteger os mais velhos e mais vulneráveis. Mantenhamos com alegria os convívios entre amigos e familiares distantes, usando a tecnologia. Continuemos a alimentar as cadeias de fluxo de trabalho entre todos, de forma a darmos o nosso melhor na manutenção e reconstrução do país. Participemos. Sejamos solidários, voluntários, indivíduos verdadeiramente cheios de sentido colectivo.
Brincar, conversar, namorar, ajudar e pedir ajuda, trabalhar, aprender, ensinar, mimar, escutar e dizer, chorar e rir, comprar e vender não são actividades proibidas! Vamos com força à segunda temporada? Eu acredito, e você?