Polícia interrompe peça no Teatro Nacional D. Maria II às 4h. “É compreensível”, aceita direcção
O teatro estava a acolher maratona de A Vida Vai Engolir-vos, peça de 11 horas cuja primeira parte havia sido apresentada no Teatro São Luiz. Tiago Rodrigues, director artístico, fala de um episódio “compreensível”, dada a “excepcionalidade da situação”, e salienta que tudo foi resolvido sem desentendimentos.
Era a segunda e última maratona em Lisboa de A Vida Vai Engolir-vos, ambiciosa peça de 11 horas na qual o encenador Tónan Quito disseca simultaneamente quatro dos maiores textos de Anton Tchékhov (A Gaivota, Três Irmãs, O Tio Vânia e O Ginjal). A primeira parte começou pelas 19h00 de sábado no Teatro Municipal São Luiz, estendendo-se até às 23h30. À meia-noite, o público estava no Teatro Nacional D. Maria II (TNDMII) para o desenlace, que se prolongaria até às 6h00 deste domingo. Mas o espectáculo acabou mais tarde do que isso: cinco minutos antes das 4h00, hora originalmente marcada para o arranque do último acto, dois elementos da polícia entraram na Sala Garrett do D. Maria II, congelando o recomeço da récita durante cerca de 30 minutos.
“Os agentes queriam ter a certeza de que as regras de distanciamento social estavam a ser cumpridas e que tínhamos o licenciamento da Inspecção-Geral das Actividades Culturais necessário para apresentarmos espectáculos neste horário. Foi uma intervenção que se resolveu de forma pacífica e com cordialidade”, explicou Tiago Rodrigues, director artístico da instituição.
Ouvido pelo PÚBLICO, o responsável fala de um “imprevisto perfeitamente compreensível”. “Não é habitual o D. Maria II ter as luzes ligadas e estar em funcionamento às quatro da manhã. As autoridades perceberam que havia público, viram que estava a acabar o último dos intervalos da apresentação e abordaram a instituição. Queriam verificar que estava tudo a decorrer de forma ordeira. A excepcionalidade da situação chamou à atenção”, reforça.
“Explicámos que estava tudo perfeitamente dentro das regras e que a maratona que estávamos a fazer era de conhecimento público”, continuou o director artístico do TNDMII, que já havia acolhido, a 5 de Setembro, uma primeira récita de A Vida Vai Engolir-vos “pela noite dentro”. “Um intervalo que teria durado 40 minutos acabou por ter uma hora e dez minutos. Mas, tendo em conta os constrangimentos da pandemia, é perfeitamente normal e louvável as forças de segurança terem este tipo de cuidado”, insiste, destacando a não-hostilidade da acção de patrulha.
Salientando que Tónan Quito “treinou previamente” a transição do São Luiz para o D. Maria II de modo a “evitar aglomerações”, Tiago Rodrigues refere que nenhuma lei foi quebrada nas diferentes pausas de A Vida Vai Engolir-vos. “As salas de espectáculos devem criar as condições para, na necessidade de um intervalo, e é óbvio que um espectáculo que vai das 19h00 às 6h00 do dia seguinte precisa de intervalos, o público conseguir cumprir as distâncias de segurança e não fazer ajuntamentos na via pública. Foi o que aconteceu, algumas pessoas subiram para a varanda do teatro e outras foram para a Praça Dom João da Câmara, mesmo à frente do D. Maria II. Tudo isto foi acautelado”, sustenta.
“A intervenção demorou um bocadinho, mas não tivemos qualquer reclamação de qualquer pessoa, até porque fomos explicando tudo aos espectadores. Foi um pequeno percalço que em nada interferiu com o serviço público que estávamos a prestar. No fim, a peça seguiu em frente e teve a ovação merecida”, conclui.
A Vida Vai Engolir-vos, que tem no elenco Álvaro Correia, Gonçalo Waddington, João Pedro Mamede, Leonor Cabral, Miguel Loureiro, Mirró Pereira, Mónica Garnel, Rita Cabaço, Sílvia Filipe e Tónan Quito, chega ao Porto a 17 de Setembro e terá duas apresentações. A primeira acontecerá num modelo faseado, nos dias 17 e 18, no Teatro Rivoli (17, início às 19h00) e no Teatro Nacional São João (18, início também às 19h00). A segunda desenrolar-se-á ao estilo maratona nos mesmos equipamentos, com o arranque marcado para as 15h00 no Rivoli.