PGR de Angola arresta bens do empresário Carlos São Vicente, investigado na Suíça
Já teve importantes ligações à Sonangol, até ter sido afastado desse papel por decreto presidencial que alegava a sua “gestão alegadamente não transparente”, diz a Reuters.
A Procuradoria Geral da República (PGR) angolana ordenou a apreensão de vários edifícios e hotéis do grupo AAA, pertencente ao empresário Carlos São Vicente, que viu 900 milhões de dólares congelados pelas autoridades suíças em Agosto, no âmbito de uma investigação por suspeitas de peculato e branqueamento de capitais
Segundo um comunicado da PGR, foram aprendidas 49% das participações sociais da accionista AAA Ativos Lda. no Standard Bank de Angola, três edifícios AAA e o edifício IRCA, situados na Avenida Lenine, na Nova Marginal, na Avenida 21 de Janeiro e na rua Amílcar Cabral, respectivamente e a rede de hotéis IU e IKA, todos localizados em Luanda.
A PGR justifica a apreensão com indícios da prática de crimes de peculato, participação económica em negócio, tráfico de influência e branqueamento de capitais. O mandado de apreensão é extensivo aos edifícios situados nas restantes províncias do país, com excepção dos que estão sob gestão do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos.
São Vicente foi um nome importante na indústria petrolífera angolana. A holding Angola, Agora e Amanhã (AAA) é uma fornecedora de serviços financeiros e companhia de seguros que trabalhou com a petrolífera estatal Sonangol
O AAA, liderado por Carlos São Vicente, casado com uma das filhas do primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto, é um dos maiores grupos empresariais angolanos, operando na área dos seguros e da hotelaria. Mas um decreto presidencial de 2016 revogou o papel do AAA na indústria petrolífera angolana, alegando a sua “gestão alegadamente não transparente”, diz a Reuters.
A notícia de que Carlos São Vicente está a ser investigado por suspeita de lavagem de dinheiro na Suíça foi conhecida através de um blogue que acompanha questões judiciais naquele país. De acordo com o blogue judicial suíço Gotham City, que cita o despacho do Ministério Público da Suíça, Carlos Manuel de São Vicente, viu congeladas sete das suas contas, tendo sido libertados os fundos de seis e mantendo-se congelada a conta que tem cerca de 900 milhões de dólares, o equivalente a mais de 752 milhões de euros.
O empresário é também administrador não-executivo do Standard Bank de Angola e solicitou a sua suspensão imediata de funções até conclusão do processo, anunciou na segunda-feira a instituição bancária.
Numa nota, a família de António Agostinho Neto considerou “abusivo, calunioso e inamistoso, o uso do nome de António Agostinho Neto a propósito do combate à corrupção que o país leva a cabo”.
A família e a Fundação Dr. António Agostinho Neto lembram que o primeiro Presidente de Angola faleceu em Setembro de 1979, seis anos antes do casamento da sua primeira filha, Irene Neto, em 1985, com Carlos Manuel de São Vicente, considerando, por isso, “um absurdo associar o seu nome a processos judiciais em investigação”.
Um perfil da AAA Ativos LDA disponibilizado online, que apresenta Carlos São Vicente como o contacto oficial, diz que a empresa tem mais de 1400 milhões em activos e é proprietária de 86 edifícios, incluindo da cadeia de hotéis IKA e 12 dos hóteis IU, diz a Reuters.