Vídeo
Esta escola síria “é um farol para crianças perdidas na escuridão”
Alepo, Síria. Quem viu o retrato do menino Omran Daqneesh sentado no interior de uma ambulância, em choque, coberto de pó e sangue, jamais poderá esquecer o cruel impacto da guerra civil sobre as crianças do país. Oito anos após do início do conflito, que teve início em 2012, e em plena pandemia, as mesmas crianças – aquelas que sobreviveram aos sucessivos bombardeamentos e nefandas condições de vida – mantêm a infância em suspenso.
O professor sírio Abdulkafi Alhamdo, protagonista do vídeo partilhado pela organização Still I Rise, recorda que milhares de estudantes abandonaram as escolas no início da guerra, “com medo das bombas”, e “muitas tiveram de começar a trabalhar para ajudar as famílias”. Abduklafi, que viu alguns dos seus estudantes sem vida diante dos seus olhos, nunca cruzou os braços. “Passei a ensinar dentro das suas pequenas casas, porque acredito que a educação é o futuro. Se esta geração parar de estudar, tudo estará perdido.”
Quando o professor recebeu o convite da organização internacional – que se dedica à educação de crianças refugiadas e órfãs, nomeadamente nos campos de refugiados na Grécia – para fundar uma escola em Ad-Dana, no Noroeste da Síria, “foi como um sonho tornado realidade”. “Não só para mim”, explica o professor e coordenador do projecto, em comunicado dirigido ao P3. “Esta escola é um farol para as crianças que estão perdidas num mar de escuridão.”
O vídeo partilhado pela Still I Rise descreve todo o processo de construção da escola Ma’an – nome que significa “juntos”, em árabe – e revela o contexto de pobreza e destruição em que emerge. Destinado, por ora, ao ensino de inglês, árabe e matemática a 34 meninos e meninas dos 10 aos 14 anos, o edifício de dois andares estará aberto, semanalmente, entre sábado e quarta-feira, das 11h30 às 15h.
Giulia Cicoli, gestora de programas e de campanhas de activismo da organização que intervém na Turquia, Quénia e Itália – e que espera, num futuro próximo, agir também na Colômbia e Venezuela –, sabe que a criação da escola na Síria “é apenas uma gota no oceano”, dada a extensão das necessidades das crianças do país. Mas também sabe que “fará toda a diferença na vida das crianças com sorte de a frequentar”. “As crianças sírias são negligenciadas há demasiado tempo”, lamenta. A situação no Noroeste da Síria “é incrivelmente dramática”, reforça. “Há 2,8 milhões de pessoas, numa população de 4,1 milhões, a precisar de ajuda humanitária urgente.”