Verão 2020
A primeira surfista profissional do Senegal inspira outras raparigas
Cresceu na capital costeira de Dakar, mas Khadjou Sambe nunca viu uma mulher negra a surfar nas ondas do Atlântico. Tornou-se a primeira surfista profissional no Senegal e hoje, com 25 anos, inspira as gerações mais novas a desafiar as normas culturais e a apanhar ondas.
O adiamento dos Jogos Olímpicos não a trava. Sambe treina sempre que as condições do mar o permitem, perto da sua casa em Ngor, em Dakar, o ponto mais ocidental do continente africano, terra com cerca de 17 mil habitantes, marcada pela pobreza.
“Quando estou na água sinto algo extraordinário, algo especial no meu coração”, diz. Veste uma t-shirt da Black Girls Surf (BGS), organização fundada pela norte-americana Rhonda Harper que ajuda raparigas e mulheres negras em todo o mundo a entrar no surf profissional.
Sambe é uma orgulhosa lebou, grupo étnico que tradicionalmente vive junto ao mar. Quando era adolescente, os seus pais não a deixaram surfar durante dois anos e meio – diziam que envergonharia a família. “A minha determinação foi forte o suficiente para os fazer mudar de ideias”, conta.
Sambe dá aulas a raparigas de Ngor, encorajando-as a desenvolver a força física e mental para surfar e fugir às expectativas sociais que recaem sobre elas (ficar em casa, cozinhar, limpar e casar jovens). “Aconselho-as sempre a não ouvir outras pessoas, a tapar os ouvidos.”
Os moradores de Ngor habituaram-se a ver Sambe com a sua prancha pelas ruas que levam à costa. “Costumava ver pessoas a surfar e dizia a mim mesma: mas onde estão as raparigas que surfam?”, recorda. "Até que pensei: porque não começo a surfar e represento o meu país, o Senegal, como uma rapariga negra?”