Supremacista branco que matou 51 muçulmanos em Christchurch lamenta não ter incendiado mesquitas

Brenton Tarrant começou a ser julgado esta segunda-feira e pode vir a ser condenado a prisão perpétua sem liberdade condicional, uma pena que nunca foi aplicada na Nova Zelândia.

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A família de uma das 51 vítimas mortais, Atta Elayyan, confrontou o atacante no tribunal LUSA/JOHN KIRK-ANDERSON / POOL

O australiano que assassinou 51 pessoas, todas muçulmanas, em duas mesquitas da Nova Zelândia, em Março de 2019, planeou o ataque durante anos e tentou “infligir o maior número de mortes possível”. Na primeira audição do seu julgamento, esta segunda-feira, Brenton Tarrant manteve-se em silêncio enquanto foi confrontado com testemunhos dos familiares de algumas das vítimas.

“Você roubou as almas a 51 pessoas inocentes, sendo que o único crime que elas cometeram, aos seus olhos, foi o de serem muçulmanas”, disse Maysoon Salama, mãe de Atta Elayyan, um neozelandês nascido no Kuwait que foi assassinado no massacre em Christchurch, em Março de 2019.

“O seu crime foi além de qualquer compreensão. Não consigo perdoar-lhe.”

Elayyan, de 33 anos, foi guarda-redes da selecção nacional de futsal da Nova Zelândia e chegou a receber o prémio de melhor jogador nacional, em 2014. Co-fundador e director executivo de uma empresa tecnológica, foi também considerado um dos 100 executivos mais inovadores da Nova Zelândia na sua área, em 2017 e 2018.

O pai, Mohammed Elayyan, ajudou a fundar uma das mesquitas de Christchurch, em 1993. Atta Elayyan estava casado há quatro anos e tinha uma filha de dois anos.

Terceira mesquita

No dia 19 de Março de 2019, Brenton Tarrant, então com 28 anos, conduziu armado pela cidade de Christchurch e matou 51 pessoas que estavam no interior e nas proximidades da mesquita de Al Noor e do Centro Islâmico de Linwood. O atirador filmou o ataque e transmitiu as imagens em directo no Facebook.

Segundo a acusação, Tarrant – um supremacista branco confesso e crente na teoria da conspiração de que está em curso um plano para substituir a população branca europeia por muçulmanos – tinha a intenção de matar mais pessoas numa terceira mesquita, mas foi detido antes de lá chegar.

Esta segunda-feira, na primeira sessão de um julgamento que pode terminar com a sua condenação a prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional – o que aconteceria pela primeira na história do sistema judicial do país –, o australiano declarou-se culpado de 51 homicídios, 40 tentativas de homicídio e uma acusação de terrorismo.

Meses antes do ataque, Tarrant viajou até Christchurch e pilotou um drone para captar imagens aéreas da mesquita de Al Noor. Segundo a acusação, o plano foi preparado com anos de antecedência e o objectivo era causar o maior número possível de mortes.

Ainda de acordo com a acusação, no caminho da mesquita de Al Noor para o Centro Islâmico de Linwood, o atacante disparou contra um grupo de negros e apontou a arma a um branco – mas, neste caso, “ele sorriu e foi-se embora”.

Para além do plano inicial de matar o maior número possível de muçulmanos em pelo menos três mesquitas, o atacante disse à polícia que pretendia atear fogo aos três locais.

Entre as 51 pessoas que assassinou no dia 19 de Março de 2019 estavam Mucaad Ibrahim, uma criança de três anos que foi baleada “de forma deliberada e intencional” enquanto se agarrava às pernas do seu pai; e Abdukadir Elmi, um nativo da Somália, de 70 anos, que conseguira escapar a uma guerra civil.

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