Ímpar
Eventos cancelados ou adiados matam devagar a cidade dos vestidos de casamento
Suzhou fica a mais de 700 quilómetros de Wuhan onde a pandemia terá começado e sente o seu impacto como o resto do mundo.
As montras do Huqiu, o centro comercial de cinco andares onde só se vendem vestidos de noiva, localizado na cidade chinesa de Suzhou, brilham com o reflexo de corredores e mais corredores de vestidos cheios de pedras, de folhos e de brilhos para atraírem os potenciais compradores. Contudo, poucos são os clientes no moderno complexo logístico, que se apresenta como um expositor da grande produção de vestidos de noiva da cidade, que por norma atrai visitantes não só de toda a China como de outros países. “As vendas até agora não têm sido boas. Espero que recuperemos na segunda metade do ano”, refere Ma Li, proprietária da loja de vestidos de noiva Hua Qing Yu, à Reuters.
Suzhou é um dos centros que mais exporta produtos ligados à indústria dos casamentos para todo o mundo e o impacto da pandemia do coronavírus é palpável, uma vez que os casais adiaram, reduziram o tamanho das festas ou optaram por cancelar os seus casamentos. Este foco de produção na zona este da China também alberga fábricas pertencentes a fornecedores da Apple, assim como um centro tecnológico da Microsoft. Ainda assim, os vestidos de noiva são a grande quota do centro empresarial.
Os lucros da indústria dos casamentos na China aumentaram de 932 mil milhões de yuan (aproximadamente 114 mil milhões de euros) em 2014 para 1.64 mil milhares de milhões de yuan (cerca de 200 mil milhões de euros) em 2018, de acordo com a Frost & Sullivan, uma empresa de consultoria de negócios norte-americana. Até 2023, é expectável que esta indústria chegue aos três mil milhares de milhões de yuan (cerca de 367 mil milhões de euros).
O crescimento exponencial foi interrompido pela descoberta dos primeiros casos de infecção da covid-19 em Wuhan, situada a cerca de 740 quilómetros de Suzhou, no início de Janeiro e pelas medidas de confinamento impostas pela China, assim como em todo o mundo. Ainda que recentemente a China tenha permitido o retomar de algumas grandes festas de casamento desde o decréscimo de casos de infecção do coronavírus, empresas sediadas em Suzhou dizem à Reuters que as vendas estão longe de chegar aos níveis de antes. “Basicamente não temos clientes”, afirma Zhu Yuan, a presidente da Romen's Wedding Dress, uma loja de vestidos. “De um total de 100%, apenas 10 a 20% sobreviveram”, diz, referindo-se aos negócios dos seus clientes, que incluem estúdios e exportadores.
No que toca à exportação, que poderia ser uma linha de salvação, Jiang Xin, um representante da Hermosa Trading, uma empresa de comercialização internacional de vestidos de noiva, refere que o aumento dos custos de transporte devido à pandemia tornou a exportação de vestidos mais cara. “A tarifa é fixa, mas os custos de transporte aumentaram, porque muitos voos foram cancelados. O ciclo de encomendas está mais demorado, portanto os preços subiram.”
No passado mês de Julho, decorreu em Shanghai a China Wedding Expo 2020, uma feira anual que inclui a participação de vendedores de vestidos de noiva, exportadores e outros ramos do negócio relacionado com a indústria dos casamentos. A organização revela à Reuters que foram muito poucos os visitantes desta edição.