Afonso Reis Cabral: “Anseio por ser sereno”

O escritor premiado foi o último director por um dia do PÚBLICO. A escrita tem sido o maior amor da sua vida. Isto “se o amor significa dedicação”.

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Francisco Romão Pereira

Qual a sua ideia de felicidade perfeita?
Não tenho qualquer ideia de felicidade plena porque ela não existe. Mas temos algumas belas miragens.

Qual é o seu maior medo?
Está por descobrir.

Na sua personalidade, que característica mais o irrita?
Ser ansioso.

E qual o traço de personalidade que mais o irrita nos outros?
A ignorância culposa.

Que pessoa viva mais admira?
Estou à espera de que ela morra para ter a certeza.

Qual a sua maior extravagância?
Em certos momentos, penso que é a sanidade mental.

Qual o seu estado de espírito neste momento?
Depende de quantas perguntas faltam.

Qual a virtude que pensa estar sobrevalorizada?
A alegria circense, que se usa socialmente.

Em que ocasiões mente?
Num questionário de Proust, obviamente.

O que menos gosta na sua aparência física?
O meu pâncreas não é muito apetitoso.

Entre as pessoas vivas, qual a que mais despreza?
A resposta é demasiado óbvia: Jair Messias Trump.

Qual a qualidade que mais admira num homem?
A rectidão e a bondade.

E numa mulher?
A bondade e a rectidão.

Diga uma palavra – ou frase – que usa com muita frequência.
“Estou farto disto.”

O quê ou quem é o maior amor da sua vida?
Se amor significa dedicação, a escrita tem sido o maior.

Aonde e quando se sente mais feliz?
Nalguns momentos da escrita.

Que talento não tem e gostaria de ter?
Gostava que o meu canto não insultasse quem o ouve.

Se pudesse mudar alguma coisa em si o que é que seria?
A ansiedade, sem dúvida: anseio por ser sereno.

O que considera ter sido a sua maior realização?
Não foram os livros. É um assunto demasiado íntimo.

Se houvesse vida depois da morte, quem ou o quê gostaria de ser?
Eu próprio, menos os defeitos.

Onde prefere morar?
Dizem que a lua Europa tem vistas fabulosas. O pôr-de-sol sobre Júpiter deve ser memorável.

Qual o seu maior tesouro?
Uma caixinha de madeira selada por fita-cola. Pretendo um dia usá-la.

O que considera ser o cúmulo da miséria?
A inveja.

Qual a sua ocupação favorita?
Primeiro, ler. Depois, ler. Então, caminhar.

A sua característica mais marcante?
Ter interesse por tudo.

O que mais valoriza nos amigos?
A intimidade.

Quem são os seus escritores favoritos?
Flutuo entre Steinbeck e Tolstói. Mas não tenho um favorito e nem sempre estes ocupam o pódio.

Quem é o seu herói de ficção?
Na infância, por estranho que pareça, era Arsène Lupin.

Com que figura histórica mais se identifica?
Com aquele guarda que se esqueceu de fechar o portão aquando do cerco otomano a Constantinopla, em 1453.

Quem são os seus heróis na vida real?
Heróis? Eles andam por aí?

Quais os nomes próprios de que mais gosta?
Não são certamente Urraca e Zagúncio.

Qual o seu maior arrependimento?
Espero que ainda esteja por vir.

Como gostaria de morrer?
Em vez de morrer, preferia de repente estar morto.

Qual o seu lema de vida?
É essencial para mim e uso-o todos os dias: “जीवनको सेवा गर्ने कुनै आदर्श वाक्य छैन।”

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