Ryanair prepara “cortes selvagens” na Europa, incluindo Portugal
Companhia aérea não adiantou número de cortes. Empresa estava em falha com a Segurança Social, mas problema está regularizado, diz director de Recursos Humanos.
O director de Recursos Humanos da Ryanair disse, em entrevista à Lusa, que há “uma perspectiva real de cortes selvagens em Portugal” na temporada de Inverno em termos de capacidade e aviões, devido à pandemia de covid-19.
Instado a concretizar e a dar números, o responsável da companhia aérea irlandesa de baixo custo referiu que “há a possibilidade de cortes selvagens em qualquer lado” na operação da empresa na Europa, remetendo para o anúncio feito na segunda-feira de que a empresa iria cortar 20% do seu horário planeado para Setembro e Outubro.
“Quaisquer previsões de agora para o Inverno estarão provavelmente erradas. Estamos a manter tudo debaixo de um grande escrutínio, mas teremos muito menos voos do que tivemos no último Inverno, isso é certo”, referiu o responsável, considerando que seria “especulação” estar a tentar prever números quanto às reduções.
“O número que ainda temos que apurar é precisamente onde é que os cortes cairão, mas certamente esperamos que alguns desses cortes sejam em Portugal”, referiu, o responsável.
Darrell Hughes lembrou que a empresa tem um acordo com os pilotos "para manter as pessoas empregadas, o que pelo menos lhes dá alguma protecção”, mas afirmou que a empresa “não está em modo de recrutamento”, mas sim “em modo de sobrevivência e reconstrução”.
O director da Ryanair disse ainda que, tal como a empresa já tinha adiantado à Lusa, não planeia “usar nenhum pessoal da Crewlink no Inverno”, numa referência à empresa de trabalho temporário que opera há mais de 10 anos em Portugal e tem como único cliente a Ryanair.
No corte de 20% do horário para Setembro e Outubro, estão incluídos, entre outros, dois países abrangidos pela quarentena imposta pelo governo britânico, França e Espanha. Este corte é feito, sobretudo, por uma menor frequência de voos.
Declarações à Segurança Social regularizadas
Darrell Hughes disse à Lusa que a empresa já fez os descontos de trabalhadores que estavam em falta à Segurança Social. “Houve um erro da Ryanair em Maio. Lamentamos por esse erro, foi obviamente no pico do confinamento da covid-19”, justificou o responsável da companhia aérea.
O dirigente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) Diogo Dias afirmou à Lusa que vários tripulantes da Ryanair estão a apresentar queixas-crime contra a empresa por falhas nas declarações à Segurança Social.
O dirigente afirmou que “os tripulantes, quando consultam a sua carreira contributiva, vêem que há meses que simplesmente não estão declarados”, algo que, segundo o sindicalista, a Segurança Social “também não sabe explicar”.
“O trabalhador tem o recibo de vencimento” no qual “estão explanados os descontos para a Segurança Social, e isso não está reflectido” nas respectivas carreiras contributivas, de acordo com o dirigente do SNPVAC.
Darrell Huges explicou à Lusa que a situação está relacionada com os “indivíduos que costumavam pagar para a Segurança Social irlandesa, ao abrigo de um regulamento da União Europeia que entrou em vigor há 10 anos”, e que “expirou em Maio deste ano”. Na transição para o sistema português, “as deduções foram feitas nas folhas de salário, houve um erro administrativo em Maio e os pagamentos não foram transferidos para a Segurança Social”.
“Demos conta deste assunto esta semana e está agora a ser corrigido e arranjado com todos as quantias pagas. Está pago, está feito”, disse o responsável da Ryanair.