Direita cresce nas sondagens e Carlos César apela à união da “geringonça”
A sondagem da Intercampus para este mês mostra uma subida da direita, à boleia do Chega. A partir do Largo do Rato, apela-se a um entendimento à esquerda para travar a escalada. Mas, desta vez, o acordo deve ser escrito.
Se as eleições fossem agora e se toda a direita se entendesse numa coligação entre PSD, Chega, CDS e Iniciativa Liberal (IL), o PS poderia perder o Governo. Os primeiros, unidos, atingem 39,9% das intenções de voto no mais recente barómetro da Intercampus, contra 39,6% do segundo. Um empate técnico que revela uma ligeira subida dos socialistas e um reforço da base eleitoral do PSD e, sobretudo, do Chega - o CDS desceu.
Por enquanto, a antiga “geringonça” (PS, BE e CDU) ainda conseguiria fazer frente a esta direita, com quase 55% das intenções de voto. Mas a diferença é cada vez menor. E enquanto Rui Rio clarifica que não tenciona fazer coligações ou acordos “com este Chega”, do lado do PS, Carlos César pede aos antigos parceiros da esquerda que se consensualizem “de uma vez por todas”.
Na sua página de Facebook, Carlos César repetiu o discurso de António Costa e vincou que “o PS tem sido claro na sua opção à esquerda”, enquanto “o PSD está a ser claro quando se chega ao resto da direita”. Carlos César distinguiu os socialistas dos sociais-democratas, depois de algumas votações lado a lado terem recordado o fantasma do bloco central.
Logo a seguir, dirigiu-se aos antigos parceiros de “geringonça” e disse que “é tempo de dizer ao BE, PCP e PEV, ou mesmo ao PAN, se são ou não capazes de reunir esses consensos num enunciado programático com o PS, suficiente, mas claro, para a legislatura”, avisando que “assobiar para o ar” pode trazer “percalços” à esquerda.
Carlos César pediu “estabilidade política” para vencer “os enormes desafios de recuperação económica e social que o presente e o futuro” reservam em resposta à crise sanitária e económica e atirou-se aos comunistas, acusando o PCP de ser o responsável pela inexistência de uma reedição da “geringonça”.
“A recusa do PCP, logo após as últimas eleições, em subscrever um acordo para esta legislatura, tal como havia conseguido na anterior, prejudicou a coerência e a utilidade de um acordo com um único parceiro ― o BE”, afirmou.
O presidente do PS pediu então um acordo formal, à semelhança do que aconteceu nas legislativas de 2015, e diz que a covid-19 mostrou “a absoluta necessidade de uma confluência formal e segura” que garanta estabilidade ao Governo para que possa desenhar e executar “um programa de recuperação com o fôlego e o sentido de médio prazo indispensáveis”. E lançou o desafio ao PS, BE, PCP, PEV e “também ao PAN” para se definirem de “uma vez por todas e sem mais demoras e calculismos”.
BE é o que mais cai, Livre desaparece
Na sondagem da Intercampus, feita para o Jornal de Negócios e para o Correio da Manhã e publicada nesta segunda-feira, a subida mais significativa é a do Chega: cresce de 6,2% para 7,9%. Já o PS consegue um reforço de 0,6 pontos percentuais nas intenções de voto, mantendo-se em primeiro lugar. A subida do partido de António Costa é ainda assim inferior ao crescimento alcançado pelo de Rui Rio que sobe 0,9 pontos, de 23,9 para 24,8%. O PAN também regista um crescimento, ainda que muito ligeiro, aumentando de 3 para 3,2%.
Do lado das quedas, a mais acentuada é a do BE, que de Julho para Agosto cai de 10,4% para 8,5%. Também a CDU (PCP e Verdes) desce nas intenções de voto, de 6,2% para 6,1%. Do lado da direita, o CDS continua a perder votos (passa de 4,8% para 4,4%). Já a IL parece ter estagnado nos 2,8%.
De acordo com este barómetro, e com apenas 0,4% das intenções de voto, o partido Livre ― que perdeu a sua representação parlamentar depois de ter retirado a confiança política à sua deputada ― desapareceria da Assembleia da República.
Rio clarifica posição sobre coligações com Chega
Apesar do crescimento da direita, neste domingo, o líder do PSD recuperou as suas declarações à RTP para clarificar que não tenciona coligar-se com o partido de André Ventura, a não ser que o Chega se modere, uma vez que que o partido é, “em muitos casos”, um partido de extrema-direita, declarou Rui Rio.
“Não depende do PSD [coligar-se]. Depende do Chega”, começou por responder. “Se o Chega evoluir de uma tal maneira ― embora seja um partido marcadamente à direita, para muitos casos de extrema-direita, muito longe de nós que estamos ao centro ― para uma posição mais moderada, penso que as coisas se podem entender”, afirmou, para logo a seguir se demarcar da linha de “demagogia e populismo” seguida pelo Chega. “Se o Chega continuar numa linha de demagogia e populismo da forma como tem ido há um problema porque aí não é possível um entendimento com o PSD”, vincou.
Para não restarem confusões, Rui Rio descartou taxativamente uma coligação com o actual Chega, dizendo esperar que o partido “se modere”. “Nesse caso, não estou a dizer que se faça, mas que é possível conservar. Mas tem de mudar. E isso não depende do PSD, depende do Chega.”
Com uma margem de erro máxima de 4%, para um intervalo de confiança de 95%, o barómetro da Intercampus incluiu 601 entrevistas telefónicas (287 a homens e 314 a mulheres) feitas entre os dias 6 e 11 de Agosto.