Coronavírus

Hospitais na Índia sobrelotados e sem condições, onde a fome ultrapassa o medo da doença

Médicos são confrontados com cenário catastrófico. Ninguém sabe quem está ou não infectado, vai-se tratando aqueles que precisam. As unidades de cuidados intensivos, que deviam estar isoladas, estão constantemente a ser invadidas por familiares desesperados.

As unidades de cuidados intensivos passaram de ser isoladas a zonas de elevado contágio entre pacientes e familiares desesperados Reuters/DANISH SIDDIQUI
Fotogaleria
As unidades de cuidados intensivos passaram de ser isoladas a zonas de elevado contágio entre pacientes e familiares desesperados Reuters/DANISH SIDDIQUI

Um hospital indiano, em Bhagalpur, perto da fronteira com o Bangladesh e nas margens do rio Ganges, tenta tratar a covid-19 em condições deploráveis. Os que são curados, são-no em condições extremas. Famílias entram e saem da unidade de cuidados intensivos (UCI), sem máscaras, sem protecção, tudo para poder alimentar os familiares internados.

A agência Reuters foi ao hospital e acompanhou Kumar Gaurav, um médico de 42 anos, hipertenso e diabético, mas obrigado a assumir a liderança da resposta à covid-19 no hospital sobrelotado, dada a falta de médicos – por doença ou por recusa em trabalhar.

Gaurav tem de ser acompanhado por militares com metralhadoras, para impedir que familiares entrem na UCI e “levem as infecções das unidades para outras pessoas na sociedade”.

O hospital universitário Jawahar Lal Nehru, deveria ser um de quatro centros hospitalares no estado de Bihar, na zona Este da Índia, aptos a tratar a covid-19 e a dar resposta a uma população de 100 milhões de pessoas. No entanto, o médico lamenta que, dada as fracas condições de saúde nas áreas rurais, muitos são obrigados a deslocar-se a Bhagalpur e, na prática, a UCI com capacidade para tratar a covid-19 mais perto fica a 200 quilómetros. “Num mundo ideal, não devia haver nenhum paciente de covid-19 neste hospital”.

Os hospitais no estado de Bihar, e por toda a Índia, estão completamente sobrelotados. As camas nas UCIs estão todas ocupadas, há familiares a tentar acompanhar os entes queridos em sofrimento no chão sujo, não há recursos humanos suficientes nem medicamentos ou sangue. O cenário é de tal forma catastrófica que Kumar Gaurav nem sabe quem está infectado.

“Não sabemos quem está positivo e quem está negativo. Não sabemos o seu estado e não podemos esperar que sejam testados. Precisam do tratamento. Somos a população mais vulnerável”.

A Índia é um dos países mais atingidos pela pandemia no mundo. Em número de casos, é apenas ultrapassada pelos Estados Unidos e pelo Brasil, mas continua a registar mais de 50 mil casos por dia e já chegou aos 2,3 milhões de casos. Já morreram no país mais de 46 mil pessoas pela covid-19. Hélio Carvalho

Reuters/DANISH SIDDIQUI
Reuters/DANISH SIDDIQUI
Um paciente na unidade de cuidados intensivos, outrora uma unidade bem isolada e com condições que permitiam o controlo da propagação do vírus
Um paciente na unidade de cuidados intensivos, outrora uma unidade bem isolada e com condições que permitiam o controlo da propagação do vírus Reuters/DANISH SIDDIQUI
Reuters/DANISH SIDDIQUI
Doentes com outras enfermidades, como a diabetes, acabam por ter de se deslocar a Bhagalpur para ser tratados, arriscando o contágio
Doentes com outras enfermidades, como a diabetes, acabam por ter de se deslocar a Bhagalpur para ser tratados, arriscando o contágio Reuters/DANISH SIDDIQUI
Reuters/DANISH SIDDIQUI
Kumar Gaurav, médico no hospital e colégio de medicina Jawahar Lal Nehru, tem de ser acompanhado por militares para afastar famílias das UCIs
Kumar Gaurav, médico no hospital e colégio de medicina Jawahar Lal Nehru, tem de ser acompanhado por militares para afastar famílias das UCIs Reuters/DANISH SIDDIQUI
Devido à falta de equipamentos de protecção individual, os profissionais de saúde têm de improvisar formas de poderem reutilizar os fatos de protecção
Devido à falta de equipamentos de protecção individual, os profissionais de saúde têm de improvisar formas de poderem reutilizar os fatos de protecção Reuters/DANISH SIDDIQUI
,
, Reuters/DANISH SIDDIQUI
Reuters/DANISH SIDDIQUI