Ambiente
Cabo Mondego: um monumento natural “poluído” por uma indústria ao abandono
"Algo não está bem" na paisagem do Cabo Mondego. Quem o diz é Janine Barreto, o fotógrafo que dedicou três anos a registar o local. Se, por um lado, a beleza natural do Cabo Mondego é de "cortar a respiração" – sendo mesmo considerado um monumento natural –, por outro, a paisagem está repleta de edifícios industriais inúteis, inestéticos e abandonados. Até quando?
No Cabo Mondego, na Figueira da Foz, uma paisagem de tirar o fôlego conviveu, durante dois séculos, com a indústria pesada do carvão e do cimento – também ela de tirar o fôlego, mas por outros motivos. Apesar de ter cessado, em 2013, toda a actividade industrial que decorria sobre a área protegida do monumento natural do Cabo Mondego, as usinas em ruína permanecem de pé, à vista de todos, sem qualquer uso, "sujando" a paisagem.
O fotógrafo Janine Barreto é natural da região e dedicou três anos ao registo fotográfico desta dicotomia para o projecto que intitulou Cabo Mondego, a Ligação Entre um Monumento Natural e a Pegada Humana, até dia 15 de Setembro em exposição no Núcleo Museológico do Mar, na cidade que foi, outrora, conhecida por "Rainha das Praias de Portugal". "O meu objectivo é revelar a beleza deste local, mesmo apesar da presença da indústria – ou, melhor, do que resta dela", explicou ao P3, em entrevista telefónica. "Os edifícios estão degradados, o que faz com que aquela zona pareça abandonada. Há um segurança a tomar conta deles, mas não consegue colocar um travão a todos os actos de vandalismo. A área é vasta e os acessos são múltiplos."
Janine é da opinião de que algo deveria mudar na paisagem, mesmo até para fazer justiça à "beleza dos elementos que ali convergem: a montanha, o mar e as falésias", que escondem, no seu interior, os fósseis de animais e plantas do período Jurássico, "um dos testemunhos mais importantes da história geológica de Portugal" e do mundo – e que datam do período entre os 185 e os 140 milhões de anos antes de Cristo. Porque "algo não está bem" na actual paisagem do Cabo Mondego.
Ao dar visibilidade a este tema, Janine espera "consciencializar o público e despertar o seu sentido crítico". "As pessoas deveriam poder visitar esta zona sem restrições", acrescenta. "Os edifícios industriais deveriam ser reabilitados, convertidos em museus ou espaços informativos que dessem relevo à riqueza geológica e paleontológica do local. Acho que seria importante devolver esta zona aos visitantes, para que fosse possível desfrutar daquele espaço em pleno."