Praga, fora do típico roteiro
Memórias de Praga pela leitora Ana Cebola Poeiras: boas dicas para preparar um futuro passeio pela capital checa.
Quando pensamos em Praga, essa cidade kafkiana que nos molda o pensamento e se intitula, e com razão, como uma das mais belas da Europa, lembramo-nos do turismo de massas no período pré-pandémico. Aquele a que assisti enquanto habitante temporária da cidade. Grupos complexos de sombrinhas e paus de selfie que se amontoavam em frente ao Relógio Astronómico ou atravessavam a Ponte Carlos com a ânsia de afastar os demais turistas seus homónimos. Lixo que ao final do dia não cabia nos contentores do centro da cidade e ligeiros encontrões com desculpas contidas nas ruas estreitas da Cidade Velha. Tudo isto existia, nos pontos turísticos e nevrálgicos da cidade, recomendados nos roteiros de dois e três dias. E sim, todos eles são importantes de visitar e sentir.
Mas é na Praga dos moradores, nos recantos recatados em que se vive a cidade na sua mais pura percepção que se definem os praguenses e se encontra a sua essência.
Em frente ao Zoo encontramos o Palácio de Troja, recortado por vinhas e estátuas que lembram tritões, cujas cores quentes assentam bem em qualquer país do Sul. Os jardins solarengos precedem uma ecopista que se estende ao longo do rio e onde os locais se deliciam com passeios em família sobre rodas. Para os alcançar pode-se atravessar de barco, inserido nos transportes locais, ou simplesmente apanhar um autocarro.
Quem visita a cidade em dois ou três dias facilmente considera que lhe faltam espaços verdes. Mas não é o que acontece. Mais uma vez, desde as margens do rio Vltava agiganta-se uma zona de lazer, verdejante, de copas frondosas e lagos convidativos, que, aos domingos, ou em qualquer final de tarde aprazível, se enche de amigos, piqueniques e slacklines. Stromovka é um bom exemplo, com os seus espelhos de água de nenúfares que sorriem a cada olhar.
Não poderia também deixar de referir aqui o forte de Vysehrad, que, apesar de se encontrar na rota, não atraía tantas massas. Com uma igreja de paredes vivas, pintadas e melódicas que nos recorda a Igreja do Trastevere de Roma, é neste forte que se encontra o cemitério dos ilustres. É possível nesta zona estender a toalha e desfrutar de um calmo e dourado pôr do sol ou observar os subúrbios arranjados e as infinitas pontes, podendo apreciar de perto as convidativas castas de vinho branco que por ali existem.
Por último, mas não menos importante, falo da zona de Dejvická, por onde se pode caminhar até Stromovka ou ir ao encontro dos jardins da catedral e transpor a zona central da cidade. Dejvická, zona residencial onde se ouve checo, e onde por vezes os desenhos animados dão jus ao nome e saltam das paredes, tem música ao vivo e bons lugares para provar a cozinha local, ou qualquer outra, longe das enchentes pré-pandémicas do centro.
Praga é como uma teia, interliga-se e interliga-nos, e todos os dias há pormenores prontos a ser desvendados pela lente curiosa, assim como outros bairros jovens e contemporâneos que merecem uma visita.
Ana Cebola Poeiras (texto e fotos)