Covid-19: Estudo não apoia uso da hidroxicloroquina como tratamento
Artio científico publicado na revista Nature conclui que a hidroxicloroquina não impede o vírus SARS-CoV-2 de entrar nas células dos pulmões.
A administração de hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19 não apresenta efeitos antivirais visíveis em células humanas, apesar de alguma resposta em testes realizados com macacos, adianta um estudo publicado na revista científica Nature por uma equipa de investigadores alemães.
De acordo com o grupo de investigadores responsável pela investigação, “a hidroxicloroquina mostrou actividade antiviral em células renais do macaco-verde africano, mas não num modelo de epitélio das vias aéreas humanas”. Por isso, a investigação defende, nas conclusões, “não apoiar a sua utilização como agente antiviral para o tratamento da covid-19 em humanos”.
A avaliação negativa dos efeitos desta substância em humanos surge depois de ter sido utilizada em diversos países como terapêutica para doentes internados. A hidroxicloroquina ganhou especial mediatismo quando o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assumiu tomá-la de forma profiláctica e por o chefe de Estado do Brasil, Jair Bolsonaro, ter anunciado que estava a tomar após ter anunciado estar infectado pelo novo coronavírus.
O estudo revela também ter testado a hidroxicloroquina em diferentes momentos, ou seja, antes da infecção, num estágio inicial antes do pico de carga viral e até depois de se atingir o máximo de carga viral. Contudo, os diversos timings de administração “não demonstraram actividade antiviral nem eficácia clínica”, nem mesmo quando usado como profilaxia pré-exposição ao vírus, uma vez que “não conferia protecção contra a aquisição de infecção”.
Os investigadores foram ainda mais longe e descartaram também a eficácia da hidroxicloroquina quando combinada com azitromicina. “Nem a hidroxicloroquina nem a sua combinação com azitromicina mostraram um efeito significativo nos níveis de carga viral em qualquer um dos compartimentos testados. Os nossos resultados não apoiam a utilização da hidroxicloroquina, quer isoladamente quer em combinação com a azitromicina”, pode ler-se no estudo, que tem como primeiro autor Markus Hoffmann, do Instituto de Investigação de Primatas de Leibniz
Também na revista Nature foi publicado um outro estudo que apontou na mesma direcção da falta de eficácia da cloroquina. Um grupo de investigadores alemães defende que esta substância usada no tratamento da malária – e administrada na resposta à covid-19 pela inibição de propagação do vírus na linha celular derivada dos rins Vero 1-3 - não evita a infecção de células pulmonares humanas pelo SARS-CoV-2.
“A expressão artificial de TMPRSS2, uma protéase celular que activa o SARS-CoV-2 para a entrada nas células pulmonares, torna a infecção por SARS-CoV-2 das células Vero insensível à cloroquina. Além disso, relatamos que a cloroquina não bloqueia a infecção por SARS-CoV-2 da linha de células pulmonares TMPRSS2 Calu-3. Estes resultados indicam que a cloroquina visa uma via de activação viral que não é operativa nas células pulmonares e é pouco provável que proteja contra a propagação da SARS-CoV-2 nos e entre os doentes”, refere o estudo.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 617.500 mortos e infectou mais de 15 milhões de pessoas em todo o mundo. Em Portugal, morreram 1705 pessoas das 49.379 confirmadas como infectadas, de acordo com o boletim desta quinta-feira da Direcção-Geral da Saúde.