Portugal teve a maior queda da Europa na indústria automóvel em Junho
Venda de carros de passageiros caiu 22,3% na União Europeia e 56,2% em Portugal. No semestre, só Espanha e Croácia têm resultado pior.
Os dados europeus da venda de carros de passageiros mostram que o negócio continua mau. Especialmente em Portugal, que registou o maior tombo na União Europeia (UE) em Junho e tem um dos piores resultados semestrais.
Na UE, Junho foi o quarto mês consecutivo de recuo, com as vendas de veículos ligeiros de passageiros a caírem 22,3%. Já em Portugal, o negócio caiu 56,2%, uma melhoria face ao mês antecedente, mas piorando na comparação com outros países, já que em Maio tinha obtido o segundo pior registo da UE.
O resultado europeu de Junho cifra-se em 1.222.942 carros de passageiros vendidos. É uma melhoria face a Maio, que tinha sido o primeiro mês de desconfinamento e registou uma quebra de 53,2%. Porém, todos os grandes mercados continuaram em Junho a ter quebras de dois dígitos: na Alemanha, a variação homóloga é de menos 32,3%; em Itália, de menos 23,1%; e, em Espanha, de menos 36,7%.
A excepção chama-se França, que é o único mercado europeu com variação homóloga positiva. A retoma aconteceu, de facto, graças a novos apoios do Governo à compra de carros de baixas emissões, o que permitiu um crescimento de 1,2% face a Junho de 2019.
Um estudo feito em seis países sugeria que os europeus não querem regressar às filas de trânsito em cidades poluídas por escapes. Dizia ainda que planeiam andar mais de bicicleta e de transporte público. O Governo de Paris pôs em marcha um plano de ajuda ao sector no valor de 8000 milhões de euros, incluindo um empréstimo de 5000 milhões para a Renault e incentivos à compra de eléctricos e híbridos.
Os dados de França sugerem que políticas públicas podem contrariar o choque na procura. Mas os efeitos podem tardar, como mostram os dados da Alemanha e da Espanha, cujos governos também adoptaram planos de apoio ao sector, sem que isso tenha servido para recolocar as vendas no caminho do crescimento.
Isso pode ter a ver com o próprio consumidor: segundo uma projecção da Deloitte, mais de metade dos europeus que pensava em adquirir carro decidiu adiar a compra. Na Alemanha, onde a 1 de Julho entrou em vigor um plano de estímulos com corte no IVA e a duplicação do apoio à compra de carros eléctricos (passou de 3000 para 6000 euros), há mais de 100 mil postos de trabalho em risco devido ao impacto da pandemia no consumo e na produção industrial.
Em Espanha, o governo liderado pelo socialista Pedro Sánchez introduziu um plano de ajuda de 3,75 mil milhões de euros. São 20 medidas para ajudar uma indústria que vale 10% do PIB do vizinho ibérico. O plano inclui incentivos reforçados à compra de carros movidos a fontes menos poluentes. Algo que até os ambientalistas portugueses defendem para o mercado nacional, nomeadamente nas compras de carros por parte de empresas.
As estatísticas hoje divulgadas pela Associação de Construtores Europeus de Automóveis (ACEA) permitem ainda colocar os resultados de Junho em cada mercado em perspectiva. E, à luz desse enquadramento, os dados parecem dar razão às preocupações que há muitas semanas têm sido demonstradas por uma indústria que, antes da pandemia, tinha um volume de negócios equivalente a mais de 8% do Produto Interno Bruto, 25% das exportações e 35% do emprego qualificado no país.
Todas as marcas à venda em Portugal registaram quebras no mercado nacional em Junho. Também aqui houve uma excepção e chama-se Porsche, que vendeu mais 24,3% de carros no primeiro semestre.
O pior resultado semestral foi o da Espanha, seguido da Croácia e depois Portugal. São notícias preocupantes para a indústria europeia – que directa ou indirectamente emprega 15 milhões de pessoas na União Europeia – e para Portugal, onde o sector emprega 75 mil trabalhadores.
As empresas que produzem componentes para automóveis, e que há uma década batiam recordes de exportação, já avisaram, a 11 de Maio, que há 12 mil postos de trabalho em risco.