Morreu Alfredo Tropa, o realizador que pôs o povo a cantar na RTP
Foi sobretudo um realizador de televisão, onde assinou a série de programas Povo que Canta, com Giacometti.
O realizador Alfredo Tropa, que teve uma carreira intensa na televisão nos anos 70 e 80, morreu aos 81 anos, anunciou a RTP.
“Foi sempre um homem da RTP”, lembrou uma peça do Jornal da Tarde da televisão pública, recordando que dirigiu também filmes como Pedro Só (1972), a sua primeira longa-metragem e a sua obra mais aclamada no cinema, inserida no movimento do Cinema Novo português. O filme, que adaptava o livro Pedro, Romance de um Vagabundo, de Manuel Mendes, tinha muitas cenas exteriores realizadas em Trás-os-Montes como muitos outros filmes do movimento. Na sua obra cinematográfica, destaca-se ainda Bárbara (1980), assinando na mesma década para a televisão a série de ficção Luísa e os Outros (1988).
Mas a obra pela qual será, provavelmente, recordado é a série de programas Povo que Canta, que realizou com o etnomusicólogo Michel Giacometti no início dos anos 70. São 37 programas de 25 minutos cada, uma recolha histórica sobre a música popular, que a RTP considerava hoje no seu obituário sobre o realizador da casa como “um dos mais importantes programas da televisão portuguesa”, “que imortalizou as imagens e as vozes de um país rural”.
“Deixou-nos o Alfredo Tropa. Realizador de inúmeros documentários e programas de televisão, especialmente para a RTP onde trabalhou durante muitos anos, contribuiu também para o cinema português com a realização várias curtas-metragens, e algumas longas, de que se destacam, Pedro Só e Bárbara”, escreveu a Academia Portuguesa de Cinema na sua página no Facebook. Tropa, acrescentava o post, vai ser um dos homenageados com o Prémio Sophia de Carreira 2020, celebrando os 50 anos do nascimento do Centro Português de Cinema, de que foi um dos fundadores.
Alfredo Ricardo Rezende Tropa nasceu no Porto em 1939, diz uma biografia publicada pela Lusa; estudou na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, onde se iniciou no movimento cineclubista e realizou a sua primeira curta, Inundações, em 1960.
Foi em 1961 que partiu para Paris com uma bolsa do Fundo do Cinema Nacional, tendo obtido o diploma de realização no Institut des Hautes Études Cinématographiques. Fez o estágio na televisão francesa, como recorda o Dicionário do Cinema Português, de Jorge Leitão Ramos. Em Portugal, iniciou a carreira como assistente de realização nos filmes fundadores do Cinema Novo português, como Mudar de Vida (1967), de Paulo Rocha, e Uma Abelha na Chuva (1972), de Fernando Lopes, na mesma altura em que filma Pedro Só.
Alfredo Tropa, que entrou para os quadros da RTP em 1968, foi o responsável pela realização da sessão especial feita no dia 25 de Abril de 1974 a partir dos estúdios do Lumiar, controlados pelo Movimento das Forças Armadas, lembrava também este domingo a RTP. Tropa, que assinou em 1976 a realização da primeira experiência a cores na televisão pública, foi igualmente director dos arquivos da televisão pública, o que lhe valeu em 2000 ser agraciado com o grau de comendador da Ordem do Infante D. Henrique pelo então presidente Jorge Sampaio.