Os pais são os arquitectos dos cérebros dos seus bebés
Sabia que ao nascer, o cérebro de um bebé contém 100 mil milhões de neurónios, mais ou menos o número de estrelas que existe em toda a via láctea?
Eles comem, eles babam-se, fazem xixi e cocó a toda a hora, palreiam sem que ninguém perceba nada e passam o tempo a dormir! Se pensarmos bem na forma como os bebés passam os seus dias seremos tentados a achar, à primeira vista, que um bebé não terá muitos recursos cognitivos e emocionais para compreender as pessoas e o mundo ao seu redor.
Mas é só à primeira vista, porque se olharmos com atenção e na direcção certa, conseguimos perceber que os bebés estão altamente focados em tentar criar sentido para aquilo que se passa à sua volta, verdadeiros cientistas a analisar e a coligir dados. Constantemente estão a analisar objectos e pessoas, a anotar os dados que obtêm do mundo, a desenhar experiências e a testar todas as suas hipóteses! Melhor!… Quando os dados recolhidos não fazem sentido ou não são o que os bebés esperam, são capazes de recuar no método, rever a hipótese e colocar novas hipóteses, como se de um novo estudo científico se tratasse.
O que se passa dentro daquelas cabecinhas é verdadeiramente espectacular!
Quanto mais evoluem os estudos das neurociências e da psicologia do desenvolvimento, quanto mais conseguimos perceber a forma como os bebés interagem com o mundo e o modo como o seu cérebro trabalha para perceber e aprender esse mundo, mais sofisticados estes pequenos seres se nos apresentam! Confira só alguns dos exemplos.
Os bebés têm memória de experiências muito precoces
Vários estudos têm demonstrado que se os bebés, por exemplo, ouvem uma determinada melodia ainda dentro da barriga da mãe, ou se as mães lêem determinada história em voz alta ainda durante a gravidez, logo após o nascimento esses recém-nascidos mostram uma preferência real (medida pela intensidade com que chucham na chupeta, quando a reconhecem) para essa melodia ou história, mais acentuada do que os outros bebés nunca expostos a elas. Ainda mais notável é que essa preferência não era dependente da voz das suas mães!
Os bebés distinguem as boas das más acções
Bebés com 6 meses de idade conseguem fazer juízos de valor acerca de um comportamento certo ou errado, e favorecem as boas acções em detrimento das más, à semelhança do que acontece com a maioria dos adultos.
No sentido de demonstrar estas capacidades, os investigadores expõem os bebés a duas cenas com peluches (um gato e dois cães), um gato a tentar abrir uma caixa de brinquedos, na primeira cena um dos cães ajuda o gato a abrir a caixa, enquanto na segunda cena o outro cão dificulta a vida do gato, impedindo-o de abrir a caixa. Mais tarde, quando é solicitado ao bebé que escolha um dos cães para brincar, mais de 75,5% escolhe o cão “bonzinho” e alguns até afastam deliberadamente o peluche “mau”. Mais incrível ainda, é que este estudo foi realizado também com bebés de 3 a 4 meses, que ainda não têm desenvolvida a capacidade de coordenação olho-mão que lhes permite estender os braços para escolherem o boneco preferido, mas, mesmo estes bebés tão novinhos passaram mais tempo a olhar para o “bonzinho” do que para o “mau”, mostrando claramente que a capacidade para ajuizar os bons e maus comportamentos dos que os rodeiam, está presente nos bebés desde apenas 12 semanas após o nascimento! Incrível não?!
Os bebés fazem cálculos estatísticos
Estatística não é algo que todos os adultos apreciem e, convenhamos, muitos de nós torce o nariz quando temos que fazer alguns desses cálculos que nos parecem sempre muito complexos! Mas para os bebés não!
Num estudo, o investigador mostra a bebés de cerca de 6 meses (para além de não falarem, alguns mal são capazes de se sentarem sozinhos), uma caixa tapada (com cerca de 50 bolas, brancas e vermelhas) de onde (aparentemente) retira seis bolas ao acaso, por exemplo: duas brancas e quatro vermelhas, que coloca em fila em frente ao bebé. Imediatamente é retirado o pano negro que cobre a caixa, onde na realidade existem, 80% brancas e 20% vermelhas! O resultado é que os bebés ficam mais tempo a olhar para este evento que contraria a probabilidade de retirada de bolas ao acaso, do que quando o evento corresponde ao que eles esperam! O que nos leva a afirmar que estatística, não é um problema para eles!
Todas estas e muito mais capacidades, só no primeiro ano de vida!
A investigação científica tem comprovado a existência muito precoce destas competências nos bebés e o impacto da interacção entre a experiência e o ambiente no potencial genético individual de cada um, para que cada bebé se possa tornar na melhor versão de si próprio!
Os primeiros anos de vida, em particular o período entre os 0 e os 3 anos de idade, apresentam um ritmo de evolução cerebral único na vida do ser humano, sendo o de maior e mais rápido crescimento, mas também o mais crítico para o seu desenvolvimento e para toda a sua vida.
Sabia que ao nascer, o cérebro de um bebé contém 100 mil milhões de neurónios, mais ou menos o número de estrelas que existe em toda a via láctea?
Cada bebé nasce com cerca de 100 mil milhões de neurónios (células cerebrais). E no primeiro ano o cérebro de um bebé faz cerca de 1.000.000 sinapses (ligações entre neurónios) por segundo! Ao nascer, o cérebro de um bebé pesa cerca de 400gr, o que representa cerca de 25% do cérebro de um adulto. Nos primeiros 3 meses passa para cerca de 50%, no final do primeiro ano, mais do que duplica o seu tamanho e por volta dos 3 anos o cérebro do bebé corresponde a cerca de 80% do cérebro de um adulto! O que corresponde mais ou menos a um crescimento de 1% em tamanho, por dia. Em nenhum outro momento da vida o aumento e as mudanças no cérebro ocorrem de forma tão rápida. Paralelamente a este crescimento cerebral ocorrem também, alterações neurológicas que preparam as aquisições futuras do bebé, o andar, o falar e até mesmo o ser capaz de dormir durante a noite toda! Enquanto o bebé se desenvolve, o cérebro recebe informações de todos os cinco sentidos, permitindo a multiplicação de neurónios e a formação de inúmeras conexões entre estes.
De segundo em segundo, um novo crescimento ocorre, novas conexões são formadas, e são desenvolvidos padrões neuronais em resposta ao ambiente. Através da estimulação sensorial (de todos os sentidos) ajudamos a que essas conexões sensoriais se tornem mais fortes. Um cheiro a café que o bebé inala em casa ou o ladrar de um cão, e o cérebro do bebé responde com uma faísca, mesmo ainda sem compreensão cognitiva acerca destes estímulos, mas pronto para transformar essa faísca numa conexão cerebral, que se irá repetir novamente caso volte a receber os mesmos estímulos nos dias e meses seguintes. E quanto mais uma determinada conexão é usada, mais mielina (substância que protege os neurónios) vai tendo, fazendo com que os sinais eléctricos circulem com mais rapidez e eficácia. As conexões usadas regularmente tornam-se, mais fortes e mais complexas, mas as que não são utilizadas, são eliminadas através de um processo chamado de poda neuronal.
Como um computador altamente sofisticado, o cérebro do bebé vem pré-programado para registar e tirar notas acerca de tudo o que se passa à sua volta, criando assim a sua compreensão do mundo e ajustando-se a ele, e aqui muito diferente de um computador vulgar, este é capaz de construir o seu próprio hardware, pois vai maturando em função das respostas que tem de dar ao seu ambiente. Depois desta produção caótica começam então a estabelecer-se padrões neuronais. Padrões estes que conduzem à criação de modelos internos de funcionamento para toda a vida!
As experiências começam a comprometer as células e as suas funções finais no sistema. O cérebro toma forma. Mas isto não acontece de maneira espontânea ou automática, o cérebro ao contrário de outros órgãos, que se encontram totalmente maduros no momento do nascimento, depende do meio e das interacções para que isso aconteça!
E é aqui que os pais têm o seu papel principal, neste roteiro que escrevem em conjunto com o seu bebé! Os pais são literalmente os arquitectos dos cérebros dos seus bebés, começando como na construção de uma casa, neste primeiro ano, a construir as fundações da mesma, fundações fortes e seguras ficam para toda a vida, ao contrário das frágeis, que vão precisar de reparações em vários momentos da vida.
A qualidade e o conteúdo das interacções da criança com seus cuidadores primários é um dos principais factores que influenciam o desenvolvimento da rede neuronal. É crucial para um bebé a extensão em que a presença e a disponibilidade emocional está para ele, para reconhecer os seus sinais e regular os seus estados. Responder ao choro e a outros sinais, dar colo, não é “estragar” o bebé, é contribuir para que seja um adulto de sucesso! Não há bebés “estragados”, muito menos com amor!
Na verdade, a ciência confirma que bebés que sofrem algum tipo de negligência devido à ausência de resposta afectiva, ou mesmo maus tratos, acabam por desenvolver cérebros mais pequenos e com alguns “buracos negros” em certas áreas, nomeadamente na área emocional, como resposta à falta de estimulação e aos altos níveis de stress a que são sujeitos. Por exemplo, situações em que os bebés são deixados a chorar, sem resposta às suas necessidades (mesmo que sejam de colo ou conforto), são situações de stress tóxico, fazem com que os níveis de cortisol no seu cérebro se elevem, resultando num efeito cáustico para os neurónios: a sua eliminação!
Por isso, tudo que o cérebro de um bebé precisa para se desenvolver saudavelmente é afecto e experiências sensoriais diversificadas!
Assim se percebe a extrema importância das experiências precoces, quer em termos de exposição a estímulos, o mais diversificados possível, quer em termos de resposta afectiva positiva. O investimento nos primeiros anos assegura o futuro do bebé!
For Babies Brain by Clementina é um parceiro do Pares do Ímpar. Os conteúdos publicados são da responsabilidade da autora. Pares do Ímpar é um projecto de parceria entre o PÚBLICO e criadores independentes de conteúdos em áreas especializadas, complementares ao alinhamento editorial do Ímpar.