Efacec recebe uma dezena de propostas para compra da posição de Isabel dos Santos
O conjunto de propostas “evidencia o valor económico e estratégico reconhecido à Efacec”, diz a administração.
Há cerca de uma dezena de interessados na compra da Efacec, que formalizaram esse interesse através da entrega de propostas não vinculativas, anunciou esta sexta-feira a empresa. Entre os interessados na compra da participação maioritária (71,3 %) de Isabel de Santos estão grupos industriais e fundos de investimento, nacionais e internacionais, adianta a administração da empresa em comunicado.
A partir de agora, e terminado que está o processo de entrega das propostas, “segue-se o processo de diálogo necessário entre todos os stakeholders relevantes para a prossecução do processo de alteração accionista”, decorrente da saída da empresária, constituída arguida no âmbito de processos judiciais em Angola, e do Luanda Leaks.
Apesar das propostas apresentadas terem ficado abaixo das manifestações de interesse demonstradas nos últimos meses, que, segundo o presidente da empresa, ascendiam a cerca de 30, “o conjunto de propostas recepcionadas evidencia o valor económico e estratégico reconhecido à Efacec no panorama nacional e internacional, nos sectores da energia, mobilidade e ambiente”, refere o comunicado.
As propostas não vinculativas (non-binding) foram entregues à Stormharbour, SL, entidade responsável por assessorar o processo de alteração da estrutura accionista da Efacec Power Solutions.
A Efacec está a cerca de seis meses “pendurada” pelo processo de saída de Isabel do Santos, onde entrou em 2015, e sem financiamento bancário, porque os bancos credores da empresa e da empresária não libertam novos empréstimos enquanto a situação accionista não ficar esclarecida.
Obrigacionistas chamados a decidir
As dificuldades de tesouraria da Efacec, que a obrigaram a colocar boa parte dos trabalhadores em regime de layoff, que acaba de ser prolongado por mais um mês, já levaram o presidente do conselho de administração, Ângelo Ramalho, a admitir que “a continuidade da empresa poderá estar em causa”. O gestor acusa vários bancos, onde se inclui a Caixa Geral de Depósitos, de estarem a “asfixiar” a empresa, que tem cerca de 2500 trabalhados e uma forte presença internacional.
Desde o início do ano que o Governo, e particularmente o Ministério da Economia, tem estado a acompanhar a situação da Efacec, afirmando que se trata de uma empresa "muito importante para o país”, mas o certo é que o processo se tem arrastado, e ainda serão necessários vários meses para a sua conclusão.
Para além da negociação a fazer com os interessados que avançaram com propostas de compra, também é necessário um acordo com os obrigacionistas. A assembleia-geral de obrigacionistas já está marcada para 20 de Julho e estes vão decidir se aceitam a alteração accionista na empresa, ou seja, uma venda provisória da participação de Isabel dos Santos a veículo a criar pelos bancos e a sua posterior alienação a um investidor final. Se os obrigacionistas não aceitarem essa alteração, e a realizar-se a venda das acções, o empréstimo de 58 milhões de euros terá de ser imediatamente pago, como está previsto nas cláusulas da emissão, encargo que a empresa não está em condições de suportar.
No entanto, os obrigacionistas estão entre “a espada e a parede”, já que a não aceitação da mudança accionista pode agravar a situação da empresa e pôr em perigo o pagamento do empréstimos na data prevista, ou seja, dentro de quatro anos.
Resumidamente, a solução que está em cima da mesa envolve a constituição de um veículo, por pelo menos cinco bancos, entre os quais o BCP, o Novo Banco e a Caixa Geral de Depósitos, e o Eurobic, que reunirá as participações que resultarem da conversão de dívidas em capital, e posterior venda, no mais rápido possível, um investidor que possa assumir a gestão do grupo.
A Efacec é uma empresa centenária, com presença internacional em mais de 65 países, e com actividade nos domínios das soluções de energia, engenharia, ambiente, transportes e, mais recentemente, na mobilidade eléctrica. A empresa apresentou lucros em 2019.