Fotografia
Índia: “O ciclone Amphan levantou os telhados como se fossem folhas de papel”
Até uma breve alusão à palavra “tempestade” faz tremer quem sofreu o impacto do ciclone Amphan, o mais poderoso da última década a atingir o leste da Índia e o Bangladesh, que provocou 128 mortes e milhões de deslocados. Inquieta também o fotógrafo indiano Supratim Bhattacharjee, que dedicou vários dias ao registo fotográfico da devastação deixada pela tempestade, que ocorreu a 20 de Maio. “O vento levantou os telhados de amianto como se fossem folhas de papel”, descreve. As árvores e os postes eléctricos bloquearam as ruas. “Em Bairuipur, a cidade onde vivo, ficámos oito dias sem electricidade devido ao ciclone; e há lugares onde, quase um mês após a tragédia, a ligação ainda não foi reposta.”
Medidas preventivas, entre as quais a evacuação das populações das zonas que se previam ser mais afectadas, “salvaram milhares de vidas, mas as perdas materiais estão para além do que será contabilizável”, explica o fotógrafo. A água do mar invadiu as aldeias e deixou clara a “impotência humana perante a força da natureza”.
Bhattacharjee só conseguiu chegar a Sundarbans, que fotografa há cerca de oito anos, a 21 de Maio. É uma área ecologicamente frágil, conhecida pela floresta de mangue e pela sua reserva de tigres. “Cheguei na manhã seguinte [à passagem do ciclone], depois de 40 quilómetros percorridos em bicicleta, na companhia do meu amigo Goutam”, narra. “Chegar parecia uma tarefa impossível, uma vez que as estradas estavam interrompidas por troncos de árvores e postes de electricidade tombados.” Durante seis dias, o fotógrafo percorreu as áreas mais afectadas pelo ciclone e disparou a colecção de imagens que, agora, partilha com o P3.
E aquilo que viu não irá esquecer. “As pequenas ilhas de Sundarbans que visitei, ou seja, Gosaba, Bali, Patharpratima, Sagar, Mousuni, G-plot, Hingalganj e Sandeshkhali, foram totalmente devastadas pelo ciclone. As famílias perderam os seus cultivos quando a água salgada invadiu a área cultivada. Milhares perderam as suas casas devido aos danos causados pelo vento ou por inundação. Muitas famílias tiveram de passar três a quatro dias sem comida e a água potável passou a ser de difícil acesso.” E porque “um mal nunca vem só”, Bhattacharjee garante que “a covid-19 começou a espalhar-se na região”, expondo ao perigo quem ficou desalojado e subnutrido.
Devido às medidas de confinamento impostas pelo Governo indiano, muitos naturais das nas ilhas de Sundarban que trabalham noutras zonas da Índia só agora começam a regressar a casa. “Teme-se que muitos estejam infectados pela covid-19, motivo por que se espera que a situação possa sofrer um revés ainda mais grave”, salienta o fotógrafo. “Embora lhes tenha sido pedido que permanecessem em quarentena, muitos não estão a cumprir. Estão a mover-se livremente, aumentando o risco de contágio.”