Líder sem poder de fogo em viagem sofrida às catacumbas
Zé Luís falhou grande penalidade e FC Porto não marcou pela primeira vez em quatro dezenas de jogos para o campeonato, arriscando-se a voltar a partilhar o comando com o Benfica.
O líder não encontrou o antídoto para superar o último do campeonato, desperdiçando um penálti decisivo e nova oportunidade para se afirmar depois do desconfinamento. Pela primeira vez em mais de 40 partidas da Liga, o FC Porto acabou um jogo em branco, deixando caminho aberto para o rival Benfica, que pode reclamar em Vila do Conde o comando repartido da prova.
Na esperança de enervar e bloquear um FC Porto exibicionalmente distante da condição de líder da Liga, o Desp. Aves optou por uma linha de cinco defesas e três médios a escorarem a muralha de Nuno Manta, que assumiu, sem hesitar, as debilidades que aprisionam a equipa nas catacumbas do campeonato.
A formação de Sérgio Conceição, que estreou o jovem defesa lateral-direito Tomás Esteves e deixou unidades como Danilo Pereira e Marega no banco de suplentes, procurava, essencialmente por Luis Díaz, romper os bloqueios, adoptando uma estratégia mais sóbria e arriscando o mínimo na procura dos espaços. Assim, apesar do controlo e domínio do encontro, os “dragões” não pareciam capazes de ameaçar a solidez da estrutura avense, apesar das iniciativas de Corona e Otávio.
O Desp. Aves estava confortável no espartilho que escolheu para a recepção aos portistas, espreitando o ataque na sequência de uma ligeira hesitação defensiva do adversário, que se apresentou privado de Marcano, Manafá e Alex Telles, baixas de vulto no sector mais recuado. Pedro Soares ainda tentou a surpresa, mas o FC Porto voltaria a exercer a pressão pretendida por Conceição, beneficiando de uma grande penalidade antes dos 20 minutos de encontro.
Carlos Xistra puniu uma saída a punhos de Szymanek, decisão apoiada por Bruno Esteves, no videoárbitro. O guarda-redes atingiu Otávio na cabeça, em lance à entrada da pequena área, dando a Zé Luís a oportunidade de quebrar um longo jejum. O avançado não marcava desde a 12.ª jornada, na Liga, e não disfarçou o nervosismo perante o guardião, que agarrou a bola, num remate denunciado, frouxo e pouco colocado, mantendo o marcador a zero.
Essa seria, de resto, a maior oportunidade do FC Porto, que até ao final da primeira parte manteve o cerco à área avense, ameaçando sem concretizar. O domínio exercido, com números esmagadores em termos de posse de bola, mas pouco animadores em relação à assertividade portista, era insuficiente, pedindo medidas para uma segunda parte em que a tendência não seria muito diferente, com o Desp. Aves a ganhar confiança com o passar do tempo e o FC Porto a resvalar para um terreno perigoso, sobretudo para quem precisa de manter o discernimento necessário para evitar os efeitos secundários da ansiedade.
Consciente da urgência de um golo, o FC Porto regressou mais determinado, com Zé Luís e Luis Díaz a levarem o guardião avense ao limite das capacidades para evitar o golo visitante. Apesar de um pouco mais acutilante, o ataque “azul e branco” não mostrava as soluções necessárias para ferir o Desp. Aves, pelo que Marega era o primeiro trunfo a ser lançado por Conceição, por troca com o defesa Tomás Esteves. O maliano não tinha, contudo, os espaços de que precisava para explorar o ataque à profundidade, o que resolveu pontualmente, acabando por protagonizar um dos raros bons momentos da segunda metade, que Szymonek resolveu.
O tempo esgotava-se e o FC Porto insistia, com Soares e Aboubakar (lançado já em cima do tempo regulamentar, para um jogo mais directo) a tentarem ser mais felizes que Zé Luís, o que se revelou impossível. Muito por mérito de Szymonek. Uma vez mais.