Covid-19
Obs-cu-ra: retratos de um Brasil virado do avesso pela covid-19
Em situação de confinamento, uma janela pode ser encarada como um símbolo de fronteira entre o interior e o exterior, entre o convívio e a solidão, a liberdade e a prisão. Foi para reforçar essa ideia que Bruno Alencastro, fotógrafo no Rio de Janeiro, no Brasil, decidiu convidar vários colegas de profissão a realizar um retrato que revelasse algo sobre a forma como vivem o confinamento. Mas com uma regra: todos os retratos deveriam incluir o conceito de camera obscura.
O que é a camera obscura? Consiste num quarto ou caixa fechada, cuja única entrada de luz resulta de um pequeno orifício num dos lados. No lado inverso a esse orifício, torna-se possível ver reflectida a imagem do que se passa no exterior da caixa ou do quarto. Mas com uma particularidade: a imagem será invertida. Norte, sul, este e oeste trocam de posição para o seu contrário. E é isso mesmo que vemos nas imagens dos 11 fotógrafos brasileiros que aceitaram o convite de Bruno. Todos os retratados estão no interior de um quarto, numa casa; reflectida na parede, ao fundo, está a realidade do exterior, invertida.
Bruno quis associar este conceito à presente crise pandémica para ilustrar o estranho mundo novo que surgiu repentinamente. O fotógrafo transformou a sua sala-de-estar numa camera obscura e realizou a primeira imagem. O resultado foi muito positivo, pensou. Mas, devido ao confinamento, percebeu que não conseguiria replicar o processo noutros locais. Por isso, pediu a outros fotógrafos que transformassem, também, as suas casas em câmaras pinhole de grande formato e documentassem, da mesma forma, a sua experiência em quarentena. A série de retratos, intitulada obs-cu-ra, representa um mundo — neste caso, um país, o Brasil — virado do avesso pela covid-19.