De que vale uma identidade digital? Em 2019, a cada 60 segundos havia 347 mil pessoas a deslizar por fotografias, vídeos e hashtags no Instagram, outras 87 mil a partilhar ideias no Twitter, e um milhão a entrar no Facebook. Em 2020, os números cresceram. São dados como estes — compilados pela analista Visual Capitalist — que arrancam o primeiro parágrafo de Ser Digital, o novo livro das especialistas em marketing Carolina Afonso e Sandra Alvarez, criado para ajudar as pessoas a navegar num mundo cada vez mais digital, onde as autoras defendem que é importante ter uma voz.
Chega às prateleiras, nesta segunda-feira, pela editora Leya, quatro meses depois do inicialmente previsto. Em entrevista ao PÚBLICO, as autoras falam sobre os objectivos do livro, os benefícios de saber descodificar o mundo online e a relevância do livro em contexto de pandemia.
“Nós acreditamos que as pessoas devem ter uma presença digital. Há um grande período da nossa vida que é passado no mundo digital e as pessoas devem ter uma participação activa nesse mundo”, sublinha Sandra Alvarez, directora-geral da agência de planeamento PHD Media. “Isto ganha mais relevância neste contexto de pandemia, em que as pessoas estão a passar mais tempo em casa e a ter de se relacionar através das redes sociais”, continua. “Basta ver como já há avós e mães a dançar e a passar tempo no Tik Tok, que antes era uma rede social focada nos mais novos.”
Mas é preciso reflectir antes de começar a criar uma identidade digital, alertam as autoras lembrando que nem sempre se consegue apagar aquilo que se escreve e partilha online. “Um dos erros é que muitas pessoas começam logo a criar muitas páginas e redes sem parar para pensar sobre aquilo em que se destacam”, explica Carolina Afonso, co-autora do livro e directora de marketing da Konica Minolta Portugal. Afonso acredita que é o motivo de se verem tantos blogues e páginas abandonadas passado alguns meses. “É preciso fazer um autodiagnóstico para perceber pontos fortes e fracos, o que é que fazemos melhor que os outros e que mensagem é que queremos transmitir na nossa plataforma.”
Pilares da identidade digital
Para ajudar, o livro Ser Digital divide-se em oito capítulos que representam os oito pilares na construção de uma presença digital: identidade, credibilidade, storytelling, autenticidade, partilha, sinergias entre o mundo online e offline, timing e organização.
Cada secção termina com uma entrevista a um português conhecido no mundo digital, convidado a partilhar as suas estratégias, como a apresentadora Marta Leite Castro, o chef José Avillez, ou o director regional da Google em Portugal, Bernardo Correia. Para Marta Leite Castro, por exemplo, a chave para uma boa história é ser simples o suficiente para que as pessoas se lembrem da “mensagem-chave”.
Pelo meio, surgem também exemplos de figuras públicas como Oprah Winfrey e Elon Musk, cujas publicações online desencadeiam debates e são seguidas por pessoas em todo o mundo. E casos polémicos como Fyre Festival, um festival luxuoso com iates e areias de praias brancas, promovido por múltiplas celebridades nas redes sociais sem conhecerem os detalhes do evento que na realidade era uma enorme fraude.
“O Fyre Festival é um dos exemplos que mostra como a identidade e a autenticidade são dos pilares mais importantes, porque é muito fácil ser-se falso nas redes sociais. Como diz a expressão: ‘A verdade é como o azeite, vem sempre ao de cima’”, justifica Carolina Afonso, professora no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa (ISEG), que diz que é importante estar atento aos bons e aos maus exemplos.
Embora abundem exemplos de “presenças digitais” entre as páginas do livro, há pouco espaço dedicado a plataformas específicas — como o Facebook, o Instagram, o YouTube, ou o Tik Tok —, ou truques sobre como as usar. “O nosso livro não quer que as pessoas sejam o guru ou o supra-sumo do digital, até porque isso é impossível. Há sempre novas plataformas e ferramentas a surgir”, justifica Afonso. “Mesmo alguém que domine ferramentas num dia, pode deixar de as dominar no outro.”
Um dos grandes desafios, comum a qualquer plataforma, é saber quando partilhar algo online. “É importante criar rotinas e usar ferramentas digitais que permitam gerir o tempo”, sugere a especialista em marketing. “O tempo que passamos a trabalhar na nossa presença digital é importante, porque com a pandemia parece que o tempo para fazer coisas online é mais escasso e tudo se mistura.”
Mas não se pode ficar refém da rotina, aponta Sandra Alvarez. “Só porque as nove da noite são uma boa hora para publicar conteúdo, não quer dizer que se tem de esperar sempre pelas nove da noite. É importante ter a actualidade dos temas em conta”, exemplifica a profissional.
Ambas as autoras frisam que o objectivo do manual não é “fazer das pessoas influencers”. “O nosso livro serve para ajudar qualquer pessoa a encontrar uma forma relevante e pertinente de participar no mundo online. E isto pode ser um médico com informação importante para partilhar, ou alguém que apenas queira falar com amigos e família”, sublinha Alvarez que acredita que ao abdicar de um canal online se está a abdicar de um canal directo com pessoas, marcas e organizações de todo o mundo.
O digital torna-se uma plataforma para pessoas partilharem informação sobre a profissão — seja culinária, cinema, direito, medicina, educação —, ou hobbie. Com a pandemia da covid-19, muitos médicos criaram páginas no Twitter para alertar as pessoas para informação falsa a circular sobre a doença, por exemplo.
“Queremos ajudar as pessoas a construir uma identidade digital que seja coerente e relevante num mundo que é cada vez mais online”, resume Alvarez.
O livro está disponível para compra a partir desta segunda-feira por 15,21 euros. A versão digital chega por 10,79 euros.