A Liga desligada
Com o início do restante campeonato previsto para os próximos dias, voltamos a assistir na Liga portuguesa ao típico comportamento nacional de nada dizer, nada fazer e esperar que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma.
Pior! Temos as habituais manobras de bastidores, as declarações vazias e cheias de coisa nenhuma e o surgimento de hipotéticos candidatos ao lugar de presidente da Liga, sem que se vislumbre uma única ideia, um novo modelo, uma nova arquitectura, que possa trazer luz, debate e discussão para o futuro do futebol em Portugal.
Sejamos claros. A Liga, tal como hoje está estruturada e gerida, é um conjunto vazio de lugares comuns, dedicada a elaborar unicamente calendários de provas e competições desportivas, sem que se tenha adaptado à realidade do futebol europeu e às outras principais Ligas europeias.
E em lugar de Pedro Proença se rodear de pessoas competentes para cumprir o seu mandato, a Liga é hoje um depositário de alguns (muitos, infelizmente) “parasitas” do futebol português, tendo Pedro Proença vindo a rodear-se de figuras bizarras, afastando as mais competentes, e que culminou na recente contratação de um incompetente (Rui Caeiro, que contribuiu para quase destruir o Sporting), para uma função que ninguém sabe bem ao que veio.
E é este retrato que nos pode elucidar bem da realidade da Liga e dos seus dirigentes actuais, da sua completa inadaptação para a gestão do futebol actual, sem qualquer preparação para gerir os temas que a poderiam ter afirmado como um verdadeiro aglutinador dos interesses legítimos dos clubes de futebol, enquanto indústria.
É tempo de arrepiar caminho, procurar olhar para a floresta e deixar que as árvores (proto candidatos) possam secar sem fazer ainda pior ao futebol em Portugal.
Enquanto a Federação Portuguesa de Futebol (FPF), apesar de também ter alguns aspectos a melhorar na sua relação com os clubes, soube, em tempo oportuno, procurar apresentar soluções para as restantes competições desportivas que estão sobre a sua jurisdição, a Liga e o seu presidente “dispararam” um conjunto de disparates, típicos de quem não faz a mínima ideia de como se gerem os interesses comerciais do futebol, sejam eles os conteúdos televisivos, sejam as fontes de receita alternativas que conduzem hoje os clubes europeus para patamares de excelência, na formação e no desempenho.
Em Portugal temos um modelo bicéfalo, sem critérios objectivos e com o presidente da Liga a ter uma agenda pessoal, que todos sabem de antemão para onde queria ser conduzido - o futuro cargo de presidente da FPF, depois de Fernando Gomes terminar o seu próximo e previsível último mandato!
E enquanto as Ligas europeias procuram gestores que potenciem o futebol profissional, como indústria pujante e gerida por profissionais, em Portugal temos a velha tradição de continuar a dar demasiada ênfase ao sector da arbitragem e às polémicas em redor do futebol, sem que se alterem os procedimentos internos para melhorar a indústria do futebol, e daí termos um excelente ex-árbitro internacional a tentar um equilíbrio impossível de alcançar.
Talvez seja tempo de alterar toda a arquitectura da Liga, de forma a criar um modelo, à semelhança de algumas Ligas europeias, que souberam direccionar os seus modelos de negócio adaptados à nova realidade que os clubes vivem, ou então criar na FPF uma direcção geral em substituição da Liga, que possa dar espaço aos clubes de se manifestarem e apresentarem também as suas soluções, mas procurando afastar estas “ guerras de poder” que só enfraquecem a indústria e o futebol em Portugal.
Existem hoje modelos de governo, com mecanismos de controlo e separação de poderes, que podem permitir à FPF e aos clubes terem uma nova arquitectura para o futebol em Portugal, isenta de dúvidas, sem bairrismos e malabarismos próprios duma sociedade medieval e feudal, nada consentâneos com os tempos de excepção por que estamos a passar.
A evolução das competições do final da temporada irá definir resultados desportivos, mas muito do modelo que a Europa irá seguir estará assente na nossa capacidade de questionarmos tudo, termos a ousadia e o engenho de alterar tudo aquilo que tiver que ser alterado, e partir para um novo ciclo.
Onde o sucesso e a imagem que a selecção nacional, os nossos jogadores, os nossos treinadores e também alguns dos nossos dirigentes, souberam trazer para o panorama do futebol mundial.
A bem do futebol português.