O que duas semanas de futebol na Alemanha já revelaram

A Bundesliga foi o primeiro grande campeonato de futebol europeu a regressar aos relvados. E há detalhes que mostram que o jogo mudou um pouco.

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A Bundesliga joga-se sem público nas bancadas LUSA/RONALD WITTEK / POOL

O recomeço do futebol profissional na Alemanha (o primeiro grande campeonato europeu a retomar a sua actividade após a paragem forçada devido à pandemia de covid-19) gerou muitas críticas, mas até ao momento, e já com cerca de duas semanas após o regresso da competição, tudo tem corrido bem de uma forma geral.

Claro que há algumas situações que fogem ao protocolo sanitário definido para o recomeço da Bundesliga. A distância física recomendada no documento sempre que o jogo não está a decorrer já levou a algumas situações bizarras, como quando os jogadores são avisados para se afastarem uns dos outros apenas segundos depois de terem estado em contacto pela disputa de bola.

Para além disso, já houve várias equipas em que os jogadores não respeitaram a recomendação para não celebrarem juntos os golos. É a força do hábito, defendem-se os jogadores.

Tempo útil de jogo aumentou

Mas há certas diferenças neste regresso da Bundesliga e não se está apenas a falar da ausência de público nas bancadas, nem do número algo elevado de lesões que os primeiros jogos originaram: oito só no final da primeira jornada.

A vantagem de uma equipa jogar no seu estádio esbateu-se ao mesmo tempo que o tempo útil de jogo aumentou comparativamente aos encontros com público nas bancadas. Os jogadores deixaram de jogar para a plateia.

O jornal espanhol Marca avança mesmo com números. Assim, antes da suspensão e com público nas bancadas tinham-se disputado 224 partidas, tendo as equipas anfitriãs ganho em 97 ocasiões (43,3%), empatado 49 vezes (21,87%) e perdido 78 encontros (34,82%).

Uma realidade bem diferente da que se vive actualmente, em que apenas houve cinco triunfos das equipas da casa em 27 jogos (18,51%), 10 empates (37,03%) e os visitantes venceram por 12 vezes (44,44%).

A ausência de público também afecta os níveis de risco que os jogadores aceitam correr. “É a oportunidade para os campeões dos treinos”, como disse Franz Beckenbauer, ex-internacional alemão. Na sua opinião, os jogadores que costumam brilhar nas sessões de treino mas que baqueiam nos jogos por lidarem mal com a pressão ganharam uma oportunidade para brilhar.

Esta sensação de descompressão também originou mais passes e toques de calcanhar do que a média da Bundesliga, mas igualmente mais passes para os guarda-redes.

O contacto físico também se reduziu. Assim o dizem as estatísticas da empresa Sportec: há menos roubos de bola em média por encontro (36,79 vs 34,07), menos entradas (33,34 vs 31,07), menos duelos (22,74 vs 219,48), menos cortes (6,19 vs 5,93), menos intercepções (22,59 vs 21,52) e menos cartões amarelos (3,71 vs 3,63).

Um dos maiores receios que não se confirmaram tem a ver com ajuntamentos de adeptos junto dos estádios. Apesar de terem sido tomadas medidas de segurança apertadas para impedir que este tipo de situações ocorresse, não se registaram nenhuns incidentes, com a esmagadora maioria dos adeptos a cumprirem as recomendações do Governo germânico. E tudo isto num país em que os episódios de hooliganismo não são assim tão incomuns.

Indiscutíveis são os bons resultados das audiências. A Sky Germany, empresa que detém a maior parte dos direitos de transmissão televisiva da Bundesliga, viu mais de seis milhões de pessoas assistirem aos primeiros jogos disputados após a suspensão da prova – a 16 de Maio. Em termos de quota de mercado e entre a faixa etária dos 14 aos 49 anos ultrapassou os 60%. E, uma semana depois e já sem o efeito da novidade três milhões de pessoas assistiram aos jogos de sábado.

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