Turismo e vendas de automóveis prejudicaram PIB logo no primeiro trimestre

PIB caiu 3,8% em cadeia e 2,3% em termos homólogos nos primeiros três meses do ano. Exportações de serviços e consumo de bens duradouros foram os indicadores com piores resultados

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daniel rocha

Uma contracção muito acentuada das exportações e do consumo de bens duradouros por parte das famílias nas últimas semanas do primeiro trimestre deste ano foram os principais factores por trás da queda do PIB registada naquele período.

Os dados das contas nacionais publicados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) vieram confirmar a quebra acentuada sofrida pela actividade económica em Portugal durante o primeiro trimestre do ano e que já tinha sido avançada pela autoridade estatística a 15 de Maio quando publicou a estimativa rápida do valor do PIB. Agora, com mais dados disponíveis, o INE realizou apenas uma ligeira revisão em alta dos valores apresentados. Em vez das variações negativas de 3,9% em cadeia e de 2,4% em termos homólogos, os dados mais definitivos apontam para uma variação negativa em cadeia de 3,8% e uma variação negativa de 2,3% em comparação com igual período do ano anterior.

Nos dados agora apresentados, acrescenta ainda informação pormenorizada sobre a forma como cada componente do PIB contribuiu para o resultado do primeiro trimestre. Apesar de os efeitos mais acentuados da pandemia só se terem começado a fazer sentir na parte final do primeiro trimestre do ano, alguns indicadores revelam já quebras muito acentuadas.

As exportações são dos indicadores mais afectados. De acordo com o INE, caíram 7,1% face ao trimestre anterior e 4,9% relativamente ao período homólogo do ano anterior. Para encontrar resultados tão negativos é preciso recuar até ao início de 2009, quando a crise financeira internacional conduziu a uma travagem muito acentuada dos fluxos do comércio internacional.

Os dados das exportações portuguesas foram particularmente afectados por aquilo que aconteceu ao nível dos serviços. As receitas do turismo são classificadas com exportações de serviços e terão sido particularmente penalizadas. Enquanto as exportações de bens caíram 5,5% em cadeia e 2,7% em termos homólogos, as variações negativas das exportações de serviços foram de 10,5% e 9,6% respectivamente.

Outro indicador com um papel fulcral na queda do PIB no primeiro trimestre foi o consumo das famílias. Os dados do INE mostram uma diminuição do consumo privado em cadeia de 3% e em termos homólogos de 1,1%. Para encontrar resultados tão negativos é necessário recuar até 2012, ano em que se aplicavam em Portugal as medidas previstas no programa de ajustamento da troika.

Foi no consumo de bens duradouros, como por exemplo automóveis ou electrodomésticos, que se registaram as descidas que influenciaram o resultado final: 8,8% em cadeia e 5,3% em termos homólogos. O consumo de bens alimentares continuou a crescer: 1,7% em cadeia e 3,4% em termos homólogos. Esta é uma característica natural em tempo de crises: as famílias cortam no consumo de bens não essenciais, já que nos outros não podem poupar tanto.

No investimento, a quebra registada durante o primeiro trimestre foi menos acentuada. Ainda houve um crescimento em cadeia ligeiramente positivo, de 0,2%, mas a variação em cadeia foi negativa, de 2,5%.

A expectativa generalizada é que, para todos os indicadores, o segundo trimestre seja bastante mais negativo, já que os efeitos da pandemia na actividade económica se fizeram sentir durante a totalidade do trimestre.

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