Um terço dos doentes com úlcera do pé diabético morre no período de três anos

Estudo seguiu 300 doentes com úlceras de pé diabético no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho.

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Texas A&M University

Um estudo que envolveu cerca de 300 doentes com úlceras de pé diabético, seguidos no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, concluiu que um terço morre no período de três anos.

O trabalho visava “avaliar a taxa de mortalidade nas pessoas com úlceras de pé diabético e determinar os principais factores de risco”, explicou à agência Lusa a investigadora Matilde Monteiro Soares, do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (Cintesis), no Porto.

Recorrendo à caracterização clínica, a equipa de investigadores acompanhou durante um período de três anos os cerca de 300 utentes, com uma média de idades de 67,6 anos e a esmagadora maioria com diabetes de tipo 2. Com base em análises e ajustes estatísticos avançados, a equipa pretendia perceber “quais as variáveis que estariam associadas ao desfecho da mortalidade”.

“Uma das coisas que tentamos perceber foi se a gravidade da úlcera estaria a influenciar o desfecho da mortalidade e, estranhamento, ao contrário do que estávamos à espera, é que, de facto, a gravidade da úlcera não parece estar relacionada”, afirmou a investigadora.

Os resultados deste estudo mostram que 30% dos doentes com úlceras de pé diabético morreram ao fim de três anos e que 52% das mortes estavam associadas a infecções, das quais 25% a pneumonias, seguindo-se as doenças cardiovasculares (22%) e doenças malignas (8%).

“Os motivos e as causas de óbito que conseguimos analisar são os acidentes vasculares cerebrais (AVC) e as infecções”, esclareceu, adiantando que também a idade e incapacidade física são factores associados a um maior risco de morte.

O estudo mostrou ainda que os participantes que já tinham tido úlcera de pé diabético (43%) tinham menor risco de morrer, algo que, segundo a investigadora pode estar correlacionado com o acompanhamento médico e resiliência dos doentes.

“Sabemos que aqueles que resistem ao primeiro “grande assalto” ao organismo que é feito pela presença de uma úlcera, acabam por ser os mais resilientes, até porque têm cuidados médicos mais detalhados e um seguimento clínico diferente”, referiu, adiantando que as úlceras de pé diabético são das complicações da diabetes com “maior impacto para os doentes e serviços de saúde”.

Matilde Monteiro Soares adiantou ainda que o objectivo da equipa de investigadores passa agora por conseguir financiamento para perceber se alguns biomarcadores podem ajudar a “compreender melhor os mecanismos da úlcera de pé diabético, o aumento de risco de mortalidade e o processo que está envolvido”.

A equipa de Matilde Monteiro Soares já tinha realizado outro estudo que mostrou que, ao fim de um ano, 7% dos indivíduos com diabetes de tipo 2 desenvolveram úlcera de pé diabético.