Costa lança Marcelo para um segundo mandato em Belém. Marcelo tira tapete a Centeno
O primeiro-ministro e o Presidente da República visitaram a Autoeuropa nesta quarta-feira de manhã. Presidenciais e Novo Banco aqueceram as declarações finais.
O primeiro-ministro, António Costa, aproveitou a visita às instalações da Autoeuropa, em Palmela, nesta quarta-feira, para lançar Marcelo Rebelo de Sousa para um segundo mandato presidencial.
No final de um curto discurso à porta da empresa, António Costa lembrou que se estabeleceu em 2016 “uma nova tradição” de que o primeiro-ministro e o Presidente da República “vêm em conjunto à Autoeuropa”. A seguir, o governante lembrou que durante a visita foi lançado a ambos o desafio de partilharem com os trabalhadores uma refeição na próxima visita.
"Como não há duas sem três, cá temos de voltar outra vez”, aceitou Costa, lançando uma data simbólica: o primeiro ano do próximo mandato. “Faço-me desde já convidado”, disse. O Presidente “experimentou o pastel de bacalhau, mas eu fiquei com vontade de experimentar uma refeição completa”, declarou aos jornalistas António Costa. O acto foi entendido como estando a lançar a recandidatura de Marcelo.
O Presidente da República ainda deu mais gás ao desafio deixado pelo primeiro-ministro. “Eu cá estarei, cá estaremos todos, porque isto é um espírito de equipa que se formou e que nada vai quebrar. Cá estaremos este ano e nos próximos anos a construir um Portugal melhor”, declarou Marcelo.
Questionado pelos jornalistas, o Presidente da República não quis falar sobre o desafio deixado por António Costa. “É prematuro estamos a falar disso. O que é importante é a vontade de continuarmos a trabalhar juntos”, disse o chefe de Estado.
Competência, excelência e qualidade
Antes, o Presidente da República deixara elogios aos que trabalham na Autoeuropa, mas também aos seus accionistas, enaltecendo a capacidade da fábrica do grupo Volkswagen de se adaptar a este tempo que vivemos. Falou de gratidão antes mesmo de aludir à “competência, à excelência e à qualidade” da empresa.
Marcelo fez questão de estender a gratidão a todos aqueles que “na indústria portuguesa, na agricultura portuguesa, no comércio nos serviços sabem ultrapassar tempos difíceis e construir um Portugal melhor. A Autoeuropa é um exemplo. Há muitos e muitos exemplos por todo o país”.
À gratidão, o Presidente juntou a esperança. “Tal como disse o senhor primeiro-ministro, nós não vivemos numa ilha e temos a esperança de a Autoeuropa seja um exemplo que sirva para toda a Europa também. Aqui é o exemplo da colaboração entre a Alemanha e Portugal, a nível europeu, tem de ser o exemplo da colaboração de todos os que formam a União Europeia”, sublinhou Marcelo, deixando uma nota em relação à Europa.
“Nós esperamos da Europa, e esperamos com urgência, com premência, uma palavra de afirmação, uma palavra de fé, uma palavra de futuro, e essa palavra que tem de ser dada rapidamente significa reconstrução, significa solidariedade, significa caminhar para horizontes que são aqueles que justificaram o nascimento da Europa”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, reafirmando esperar que a” Europa esteja à altura das suas circunstâncias”.
Marcelo não esqueceu aqueles que “estão a trabalhar por todo o país sem medo, sem angústias, sem ansiedades” e, por momentos, recuou a 2016 – “estava Portugal a sair de uma crise longa e difícil da economia e na sociedade portuguesa” – para puxar pela auto-estima dos portugueses: “Nós vamos continuar a confiar nos portugueses, nós vamos ultrapassar esta pandemia e os efeitos económicos e sociais este ano, no ano que vem, nos anos próximos.”
Antes, o primeiro-ministro tinha destacado a importância da fileira automóvel para a economia nacional, referindo que entre fornecedores e produtores representa “uma parte importante do Produto Interno Bruto nacional”. E acrescentou: “Este é talvez dos ramos industriais em que se torna mais evidente a dependência das cadeias de valor e de fornecimento, mas também a necessidade de haver uma retoma da economia à escala global.”
As reflexões da Europa
Tal como o Presidente da República, também o primeiro-ministro falou da Europa para dizer que tem de fazer “duas importantes reflexões” a curto prazo.
Segundo António Costa, a Europa, para enfrentar com segurança os desafios que se colocam globalmente, se quiser assumir-se como centro económico e industrial, “terá de encurtar as suas cadeias de valor, não dependendo tanto de fornecimentos que chegam de outros continentes, ou de locais em continente europeu com menor qualidade e segurança institucional”. Nas palavras do primeiro-ministro, a Europa deve “concentrar as cadeias de valor e entre países onde a qualidade institucional é segura”.
A segunda reflexão que a Europa tem de fazer deve passar pela ideia de “haver uma retoma em conjunto à escala europeia”.
Para o chefe de Governo, “é fundamental que esta recuperação exista em todos os países porque todos dependemos de todos, a resposta da União Europeia não pode ser à medida de cada país, tem de ser uma resposta idêntica para todos os países”, defendeu, deixando um recado para fora: “Ou todos retomamos ao mesmo tempo ou infelizmente nenhum conseguirá retomar isoladamente.”
E porque a fábrica que o primeiro-ministro visitou nesta quarta-feira na companhia do Presidente da República produz automóveis, António Costa revelou que a Presidência do Conselho de Ministros irá em breve adquirir um automóvel a cada uma das quatro unidades que produzem de raiz veículos em Portugal, dando um sinal de confiança nesta indústria.
Tirar o tapete a Centeno
Sem estar propriamente a retribuir o “elogio”, Marcelo colocou-se ao lado de Costa na questão do Novo Banco, dizendo que o primeiro-ministro tinha estado “muito bem no Parlamento”. E defendeu que o Estado cumpre sempre os seus compromissos, mas, neste caso, não o devia ter feito sem os resultados da auditoria que devia estar concluída em Maio, a tempo da transferência do capital (mas não estará).
“É politicamente diferente o Estado assumir responsabilidades dias antes de a auditoria ser conhecida ou a auditoria ser conhecida dias antes de o Estado assumir responsabilidades”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, tirando o tapete ao ministro das Finanças, que ainda nesta quarta-feira de manhã se defendeu, explicando que a transferência para o Novo Banco “não foi feita à revelia de ninguém”.