Carolina Henke: a “sonhadora”que está “sempre a criar alguma coisa nova”, brigadeiro após brigadeiro

A empresária brasileira, dona da Brigadeirando, do Borogodó e do Café da Fábrica, não tem uma resposta concreta para o sucesso, mas acredita que o importante é não estagnar. Ainda que a pandemia de covid-19 tenha fechado a restauração, Carolina Henke continua a dar asas à criatividade.

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O Borogodó é o mais recente projecto de Carolina Henke Rui Gaudêncio

Carolina Henke é o rosto por trás da Brigadeirando, do Café da Fábrica e, mais recentemente, do Borogodó. A empresária brasileira diz não saber o segredo para o sucesso, mas garante que “não estagnar” é fundamental. Leva muito a sério a máxima de “estar sempre a criar alguma coisa nova” e nem o novo coronavírus a fez parar.

Durante a pandemia de covid-19, a Brigadeirando reinventou-se com produtos especiais, entregas ao domicílio na Grande Lisboa e envios via correios para todo o país. Potes com minibrigadeiros, frascos com lascas de chocolate, brigadeiros em pote ou tabletes de chocolate são algumas das delícias que podem ser encomendadas de Norte a Sul do país.

A loja do Lx Factory, em Lisboa, funciona, por enquanto, apenas para levantamento das encomendas. Nas zonas de Lisboa, Oeiras, Cascais, Sintra, Loures, Almada, Seixal e Mafra, a Brigadeirando tem um serviço de entregas próprio.

Para celebrar a Páscoa atípica deste ano, Carolina Henke inspirou-se no arco-íris e no mote #vamostodosficarbem para criar uma colecção colorida. Nesses dias, as redes sociais foram invadidas pelas fotografias das barras de chocolate coloridas ou dos coelhos da Páscoa em bolo recheado com brigadeiro.

Seguiu-se o Dia da Mãe, com uma colecção inspirada no coração de mãe. Bolo coração recheado de brigadeiro, lascas de chocolate, um diamante de chocolate ou mesmo uma barra de chocolate com mais de um quilo recheada, claro, com brigadeiro. A maioria dos produtos idealizados para estas datas especiais ainda estão disponíveis para encomenda.

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Coração de Mãe DR

“A Brigadeirando é mesmo toda eu”

Da paixão de Carolina Henke pela cozinha, em especial pela pastelaria, nasceu, em 2015, a Brigadeirando. “Eu digo que a Brigadeirando é um teste que não copiei e deu certo”, explica a empresária. A ideia era, mais do que abrir uma loja de brigadeiros no LxFactory, criar uma marca.

O conceito Brigadeirando foi crescendo e contrariou as expectativas de todos os que não acreditavam que o negócio fosse vingar. “O difícil foi pensar como vender um produto que, por mais que se conheça, não fazia parte da cultura portuguesa diariamente, como faz no Brasil”, conta Carolina Henke.

Mas já dizia Fernando Pessoa, que “primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Com a Brigadeirando não foi diferente e Carolina Henke acredita que, hoje, quando se vêem brigadeiros numa festa de aniversário ou num evento, o mérito é da sua marca: “Se perguntarmos às pessoas para dizerem uma marca de brigadeiro, acho que a primeira que vem à cabeça é a Brigadeirando.”

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A marca de luxo de brigadeiros foi totalmente idealizada por Carolina Henke, das embalagens à estratégia de marketing e, claro, aos produtos, que vão desde os tradicionais doces brasileiros a bolos e chocolates — “tudo tem que estar relacionado com brigadeiro”. “A Brigadeirando é mesmo toda eu”, confessa a empresária.

Antes da pandemia de covid-19, estava planeada a expansão da pequena loja da Brigadeirando no Lx Factory, concretizando um sonho antigo da proprietária: organizar workshops e criar uma grande cozinha em vidro para que os clientes possam espreitar. Os brigadeiros de Carolina Henke chegaram também há pouco tempo a Cascais, na loja Casa Pau Brasil.

É precisamente na Casa Pau Brasil, mas no Príncipe Real, em Lisboa, que fica o mais recente “desafio” de Carolina Henke, inaugurado pouco tempo antes da pandemia ter encerrado a restauração: o Borogodó. E o que significa borogodó? “Não tem definição, é qualquer coisinha de especial”, explica a empresária brasileira. O Borogodó quer ser um pequeno oásis das terras de Vera Cruz em Lisboa, com pão de queijo, coxinha de frango, escondidinho e também os clássicos brigadeiros da Brigadeirando.

Carolina nasceu no Brasil, mas diz que foi em Portugal que descobriu a sua “essência”. Tem orgulho de ser brasileira, mas nunca impingiu a sua nacionalidade em nada do que faz: “Eu não queria que as pessoas soubessem que o Café da Fábrica era de uma brasileira, porque na época existia muito preconceito. O Borogodó é um contra-senso de tudo o que eu nunca deixei transparecer.”

“A mistura entre Brasil e Portugal” é o que, segundo a própria, a define: “Não sou mais tão brasileira, nem sou totalmente portuguesa.” Chegou a Portugal há 13 anos para estudar empreendedorismo na Covilhã. Rapidamente descobriu que o empreendedorismo não era para si e mudou para marketing.

Depois de um ano a estudar no interior do país, decidiu mudar-se para Lisboa, onde, numa ida ao Lx Factory, conheceu o Café da Fábrica. Na época, andava à procura de um sítio onde fazer consultoria de marketing para um trabalho da faculdade. O então dono do espaço aceitou a proposta e Carolina Henke nunca mais deixou o café.

Com o passar do tempo, “as pessoas diziam que iam ao Café da Carolina”. “O Café da Fábrica foi, sem sombra de dúvida, o motivo de eu ter ficado em Portugal”, recorda a empresária. Pouco depois, mesmo “sem saber nada das leis de Portugal”, comprou o espaço. No Café da Fábrica garante ter descoberto o gosto por “ir para a cozinha”. “Não tenho formação, só paixão”, diz Carolina Henke.

“É impossível fazer o equilíbrio”

É na cozinha que Carolina Henke gosta de estar, seja em casa ou no seu espaço do LxFactory. “De madrugada é quando tenho as ideias mirabolantes. Lógico que eu fico cansada, mas eu adoro os meus negócios”, conta a empresária brasileira.

Refugia-se nessa divisão da casa para dar asas à criatividade, sempre com o apoio da equipa, que “ajuda a remediar os problemas”. Formar uma equipa, confessa a empresária, é um dos principais desafios: “Ninguém quer fazer a vida na restauração.” Na Brigadeirando, no Café da Fábrica e no Borogodó, Carolina Henke emprega agora cerca de 30 pessoas.

Delegar responsabilidades nos colaboradores foi difícil, confessa: “Eu tenho uma equipa de design, outra de comunicação, de fotografia — foi difícil delegar, no início era eu que fazia tudo.” Abdicar do controlo é complicado, garante Carolina Henke, mas é uma condição essencial para o crescimento.

Já na vida pessoal, explica, o maior obstáculo é conseguir um equilíbrio de tudo: “Às vezes, as pessoas perguntam-me como consigo ser mãe, mulher, amiga e ter as empresas. É impossível fazer o equilíbrio: um dia vou ser mais mãe, no outro, mais empresária.”

“Hoje em dia, no Instagram ninguém vê a parte difícil das coisas. Acham que abrir um negócio é fácil”, sublinha a empresária, que faz sempre questão de reforçar que o mérito não é só seu, mas também da equipa que a acompanha. “Não existe uma empresa sem equipa”, defende Carolina Henke.

Olham para ela como empreendedora, mas Carolina Henke tem outra perspectiva: “Vejo-me mais como uma sonhadora.” Para o futuro, a empresária guarda três sonhos: abrir um pequeno restaurante italiano, uma loja de flores e escrever um livro de receitas. O livro fica reservado para quando conseguir parar, condição que diz ser essencial à escrita. Não está para breve, porque até lá a “sonhadora” vai continuar a procurar nunca estagnar. 

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