Ourivesaria quer o fim do monopólio na certificação

Estudo divulgado pela Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal indica que mais de 90% das empresas sofreram reduções na sua aactividade superiores a 50%.

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Cerca de 60% das empresas inquiridas já entraram em layoff total. Nelson Garrido

As empresas do sector da ourivesaria e relojoaria dizem ter sido afectadas de forma “extremamente grave” pela pandemia, a que se associou o encerramento durante um mês e meio das Contrastarias da Imprensa Nacional - Casa da Moeda, a única entidade de certificação de joalharia em Portugal.

Uma vez que o sector se encontra regulado pelo Regime Jurídico da Ourivesaria e das Contrastarias, que obriga à certificação da maior parte das peças de joalharia, o encerramento entre 16 de Março e 3 de Maio levou ao bloqueio “quase por completo do sector”, já por si afectado pelas consequências da pandemia no que toca à retracção do consumo ou ao encerramento de lojas.

O estudo divulgado esta quarta-feira pela Associação de Ourivesaria e Relojoaria de Portugal (AORP) afirma que 93% das 78 empresas consultadas dizem ter tido a sua actividade com uma redução superior a 50%. Do total de empresas inquiridas, mais de metade diz ter sido afectada por stocks parados devido à falta de certificação.

“A suspensão da actividade das Contrastarias bloqueou qualquer tentativa de reacção e recuperação do sector neste período, impedindo por exemplo, a comercialização via comércio electrónico”, sublinha o presidente da AORP, em comunicado de imprensa. Desta forma, Nuno Marinho apela à necessidade de “repensar o actual modelo de certificação” e abrir a possibilidade da certificação ser feita por entidades privadas, devidamente credenciadas, “terminando com o regime de monopólio” que existe em Portugal.

Das 78 empresas do sector participantes no estudo, cerca de 60% já se encontram em lay-off total e 11,5% em lay-off parcial. Já 14,1% destas encerraram a actividade.

Quanto aos planos de investimento, 70,5% das empresas revela ter os seus investimentos em áreas como capacidade produtiva, recursos humanos e a internacionalização completamente suspensos. Relativamente ao futuro, as perspectivas não são positivas: quase 70% diz esperar uma redução entre 100% e 50% nas suas receitas nos próximos meses.

Contudo, Nuno Marinho acrescenta que “apesar do sentimento pessimista entre as empresas, acredita que o sector venha a inverter este impacto negativo nos próximos meses” e que se venha a adaptar ao contexto pós-pandemia.

Neste sentido, Fátima Santos, secretária-geral da AORP, revela ao PÚBLICO que a associação que apostar na transição para o digital. Já anteriormente tinha sido criado o site Portuguese Jewellery Shaped with Love que “funciona como um directório ou uma apresentação colectiva da joalharia portuguesa para os consumidores e já conta com a presença de 25 empresas”. Agora, o objectivo é tornar o site numa plataforma de e-commerce, tendo em conta as idiossincrasias do sector, tal como as leis específicas que lhes estão associadas. Por outro lado, “o website também irá permitir, no futuro, a que se proceda ao booking de peças para momentos como sessões fotográficas ou actividades ligadas à moda”, acrescenta a responsável.

Segundo a AORP, o sector da ourivesaria portuguesa é composto por 4300 empresas, representando um volume de negócio anual de 1.000 milhões de euros, dos quais 10% correspondem a exportação. 

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