World Press Photo

As águas turquesa do lago Urmia, no Irão, “foram substituídas por um deserto infinito”

As imagens de Maximilian Mann documentam a redução drástica do corpo do lago Urmia, no Irão. A série Fading Flamingos venceu o segundo lugar na categoria Ambiente do World Press Photo. “Há um desastre ambiental em curso”, denuncia o fotógrafo.

©Maximilian Mann
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"Há um desastre ambiental em curso no lago Urmia, no Irão." Quem o afirma é Maximilian Mann, o fotógrafo alemão cuja série Fading Flamingos conquistou o segundo prémio da categoria Ambiente da última edição do concurso World Press Photo. "As águas azul turquesa [do lago] foram substituídas por deserto infinito", descreve. O Urmia já foi o segundo maior lago salgado do mundo — já foi dez vezes maior do que o lago de Constança, no coração da Europa; nos anos 90, a sua extensão correpondia a duas vezes a área do Luxemburgo. Tudo não passa de uma memória. "Em poucos anos, o corpo de água do lago reduziu cerca de 80%", refere Mann. "E há dois factores que estão na origem deste declínio: as alterações climáticas e o desvio de águas para alimentar o sector agrícola da região." Três, aliás. "Cientistas e ambientalistas referem também o impacto negativo da construção da barragem de 15 quilómetros de extensão, em 2008, que divide o lago em duas partes e que obstrui o fluxo natural das águas", corrige.

Devido à alta salinidade das águas do lago, o seu ecossistema tem características muito particulares; é, segundo um estudo que resulta do esforço conjunto de três universidades, o habitat de várias espécies de bactérias, microfungos, 311 espécies de plantas e cinco de molúsculos. As aves — os flamingos, os pelicanos, as cegonhas, as gaivotas, entre outras — também compõem esse ecossistema e encontram no lago Urmia o local de paragem ideal, entre migrações. A seca mais recente fez aumentar o grau de salinidade das águas e diminuir o número de aves migratórias na região. Os mais afectados por esta mudança são os flamingos, uma visão cada vez mais rara no Urmia. O nome do projecto, Fading Flamingos, alude precisamente a esse facto.

A diminuição do corpo do lago tem também um impacto profundo sobre as pessoas que vivem nas margens. "É um grande problema", explicou Mann ao P3, em entrevista. "Muitas pessoas deixaram de poder depender do lago, especialmente aqueles que se dedicavam à agricultura e ao turismo." Os jovens mudaram-se para as grandes cidades em busca de emprego. Hoyat Nour, de 35 anos, um homem que Mann retratou numa das três viagens que fez ao Irão para desenvolver o projecto, entre Setembro de 2018 e Janeiro de 2019, "nasceu numa pequena aldeia chamada Galgachi", refere. "Desde que a sua aldeia começou a sentir o impacto da seca do lago, passou a ter dificuldade em encontrar trabalho. Por isso, Hoyat é, hoje, taxista em Urmia, uma grande cidade que dista cerca de 15 quilómetros do lago. Raramente regressa à aldeia para visitar família e amigos."

Para além das consequências ecológicas e económicas deste desastre ambiental, também a cultura local está a ser afectada. "As pessoas têm memórias de infância relacionadas com o lago", explica Mann. "Muitas pessoas contaram-me que costumavam ir nadar ao lago, durante os fins-de-semana de Verão. Nada disso é possível, hoje." Mas há quem mantenha a esperança, ressalva. "Agora já existe mais água no lago do que existia em 2018." As chuvas torrenciais do Inverno de 2019-2020 fizeram subir o nível das águas. "Se é uma mudança temporária, só o tempo dirá."

É necessária intervenção urgente, na opinião do fotógrafo. "Se a tendência [de decréscimo do corpo do lago] se mantiver, cerca de cinco milhões de pessoas serão forçadas a abandonar a região no futuro", afirma. "O presidente iraniano, Hassan Rouhandi, já reconheceu a necessidade de operar mudança e prometeu a canalização de 5 mil milhões de dólares (cerca de 4,5 mil milhões de euros) para a revitalização do lago Urmia." O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento também está a apoiar a população no sentido da estabilização de terrenos pantanosos em redor do lago e em torná-los mais sustentáveis, do ponto de vista ecológico.

©Maximilian Mann
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